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18 de fevereiro de 2017 - A História da Vic (2003-2014)

Não é por acaso que os cães são considerados os melhores amigos do homem. Acolhidos e tratados com carinho, tornam-se animais de  estimação  e chegam a fazer parte da família, compartilhando da maioria dos momentos de alegrias e tristezas. A perda de um animal é um acontecimento triste e de muita consternação.

 

Numa das minhas idas  a  Porangaba, na véspera de Finados, no ano de 2003, ao chegar em minha casa, antes de  abrir o portão da garagem, notei um “vulto” encostado na parte central e desci do carro para melhor identificar. A surpresa foi enorme; tratava-se uma cachorrinha ali deixada, muito nova e que choramingava. Bastante frágil, via-se que estava subnutrida. Levei um tremendo susto e a acolhi com a intenção de identificar a pessoa que a abandonou. De imediato, procurei os vizinhos, mas ninguém sabia de nada. Uma vizinha disse-me: “essa danadinha é inteligente; ela procurou o dono e tenho certeza que ali ração não lhe faltará…” Fiquei surpreso, mas nada comentei. Como minha esposa e meu filho estavam viajando, tomei a decisão  de  acomodá-la, alimentando-a com leite e água, para depois avisá-los por telefone e tomarmos uma decisão em conjunto; abrigá-la ou reencaminhá-la para alguém.  Dito e feito; ao avisá-los minha esposa me disse de pronto: “Acolha a cachorrinha, que é um presente de Deus que recebemos. O nome dela será Victória” ou simplesmente Vic”. Apesar de ficar preocupado, naquela noite eu a acomodei na garagem e notei que, amparada, parou com as lamúrias e adormeceu tranquilamente. Dormiu a noite inteira.  No dia seguinte, a levei ao veterinário onde recebeu medicações e, então, ele definiu o tipo de alimentação. Recomendou  somente  ração; nada de comida caseira.  Começou  então a história da nossa Vic e que durou  onze anos.  Daí, eu repetir hoje: “eu tinha uma cachorrinha, muito forte, saudável, meiga e inteligente. Ela apareceu na minha vida de forma inesperada. Foi muito apegada e até ouso dizer que tinha predileção por mim”.

 

Ela nos deixou no dia 03 setembro de 2014, vitimada por um problema cardíaco; tinha um “sopro” no coração.  Providenciamos todos os cuidados médicos, mas o seu estado se agravou. Confesso que ao receber a notícia de sua morte senti um vazio, uma perda irreparável e muitas lembranças vieram à minha cabeça. Junto com meu filho, fomos para Porangaba, onde fizemos o seu sepultamento. Nós a levamos para a Chácara São Luiz, sepultando-a sob um bonito pé de eucalipto.

 

Ela era a alegria de todos em nossa casa.  Tudo começou com o saudoso Anísio, que muito lhe agradava. Trazia, escondido, bolachas e pães que ela  gostava, apesar da recomendação que só  lhe desse “ração”. Todos a admiravam e se encantavam com suas estripulias. Ali, o amplo quintal era o seu “mundo”, onde sempre dominou e mandou. Controlava tudo; defendia com unhas e dentes o  espaço, mas não me lembro de que tenha atacado alguém. Era uma mistura de “vira lata” com “pastor alemão”, caçadora, atacando pássaros  que ficavam ao seu alcance, matando predadores ( ratos e cobras ) que adentravam o quintal.

 

Um fato inusitado ocorreu quando atacou um ouriço que veio da mata vizinha, ocasião em que foi “espetada” por inúmeros  espinhos, principalmente, na boca e que exigiu o atendimento em caráter de emergência de um veterinário para a remoção. Latia muitas vezes, especialmente à noite, mostrando sua presença; controlava os portões e observava os passantes.

 

Tinha o costume de esconder ou camuflar os objetos que levávamos, que iam desde alimentos (que supostamente não gostava e rejeitava) e outros presentes, como bolas, bonecos, brinquedos, etc., que recebia com alegria, mas simplesmente escondia. Usava parte do jardim, para enterrá-los, nos inúmeros buracos, que abria com as patas, entremeio aos vasos e plantas ornamentais ali existentes. Como dizia o jardineiro ao encontrar os buracos e objetos enterrados, “A Vic já andou por aqui”.

 

Certamente, também passou por momentos difíceis com a perda de nossos entes queridos, pessoas com as quais ela conviveu intensamente e que a tratavam com muito  carinho. Como passamos, em decorrência desses tristes acontecimentos, a ir menos vezes para Porangaba,  foi possível, então, observar suas reações que a diferenciavam de outros cachorros. Começava com a “festa” que fazia na chegada; ficava radiante e não escondia a alegria; Saltava de um lado para outro e sempre aguardava os presentes. Geralmente “courinhos e ossinhos” que costumávamos  levar; guloseimas caninas, hoje tão em moda.

 

Outro hábito curioso que tinha era o fato de cheirar detidamente muitas pessoas que vinham à nossa casa, assustando-as, daí  nossa preocupação em preservar os visitantes, afastando-a; Dizem que o cães conseguem identificar  o humor das pessoas pelo odor. Ficava radiante nos dias que lá permanecíamos, mas, tudo se transformava, quando percebia que já íamos voltar para São Paulo. Ela mudava, ficava acabrunhada, afastada e triste. À distancia, acompanhava tudo, entendia tudo e ficava desolada. Chegava a se esconder nos cantos do quintal.

 

A Vic nos deixou e encerrou mais um ciclo de nossa passagem por aqui. Ficaram somente as boas lembranças. “Vic, Vic, Vic”,  será sempre  o nosso chamamento e ela virá ao nosso encontro alegremente.

 

Foto: “Vic”, acervo pessoal.

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

 

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