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10 de fevereiro de 2016 - A Instalação do Telefone em Porangaba

Porangaba viveu praticamente isolada até meados dos anos 40 do século passado, embora já tivesse sido contemplada com a estrada de rodagem para Tatuí no final dos anos 30. Um caminho tortuoso e complicado que teve que passar, por interferência  política, por Cesário Lange e pelo município de Pereiras para atingir os portões da Fazenda São Martinho. Por conseguinte, os outros caminhos eram bastante precários, mas, o que é pior, os problemas estruturais saltavam aos olhos. Para complicar, não havia energia elétrica, água encanada, serviços de saúde, saneamento básico, etc.., e se as estradas eram péssimas, o que podemos falar do sistema de comunicações?. Somente existia o correio, cujos serviços se tornavam demorados  pelas deficiências existentes,  já que dependia do auto-ônibus  (“jardineiras”) para o transporte dos malotes. O cobiçado  “telefone”, que já existia noutras cidades vizinhas, aqui era conhecido somente através de “fotografias”. Era comum ouvir:  por que não temos,  ainda,  o telefone como os nossos vizinhos de Cesário Lange, Conchas e Bofete?. Era um atraso inexplicável, certamente aliado à dependência dos governantes locais aos políticos de  Tatuí. Porangaba, mesmo emancipada politicamente não conseguia os melhoramentos reclamados.

 

Somente com o término da 2ª. Guerra Mundial, com a queda da ditadura Vargas é que ocorreram as  mudanças. Diminuiu a recessão econômica em todo País e aconteceram mudanças políticas em todos os municípios brasileiros por força das intervenções. Aqui não foi diferente e tivemos prefeito nomeado pela Interventoria Estadual. Políticos mais jovens puderam assumir o Governo Municipal.  Foi a primeira oportunidade que aconteceu ao longo da história e, em curto prazo, procuraram solucionar problemas cruciais que castigavam a população: a falta de energia elétrica e da rede telefônica. Chefiava o município, como prefeito designado  Luiz Manoel Domingues  (Luiz Cândido)  e,  por  prestar apoio financeiro  aos empreendimentos, dois nomes merecem destaque: Abimael do Amaral ( Coletor )  e José Santos de Campos ( Juca da Farmácia ). Tudo foi feito com recursos de particulares, que depois, com o passar dos anos, foram ressarcidos pela municipalidade aos empreendedores.  Enfim, o telefone chegou e houve grande festa. Já era possível falar com Tatuí e até com São Paulo. Tudo aconteceu  rapidamente, em alguns meses,  e mudou a vida dos  porangabenses. A luz veio para acabar com as “assombrações” e o telefone com o “isolamento”. Na inauguração, com muita música e fogos, destacou-se a figura do padre alemão Ambrósio Marks, vigário da Paróquia, que benzeu as instalações e fez a primeira ligação. Foi um acontecimento inesquecível. E o primeiro Centro Telefônico?  Onde ficava?  Foi instalado na  atual rua Vereador Braz Gica da Paz , no local onde hoje está a casa da  Família do Maestro Cezarino Correa (  era um imóvel bem mais simples e menor).

 

A primeira  telefonista foi Rute Alvarenga Cassetari. O equipamento (mesa) era simples, manual, com poucas linhas (no máximo 30 usuários),  com meia centena de pares de fios e conexões nas extremidades, que constituíam um verdadeiro desafio aos técnicos e às operadoras. Dali,  o centro foi transferido para outra imóvel, também não mais existente, ao lado do Clube Recreativo 21 de Abril, na rua 4 de Junho, onde hoje é a moradia do sr. Plínio de Oliveira Vaz. Trabalharam ali as telefonistas:  Ada de Oliveira Vaz, Francisca Nogueira Vieira e Maria Gláucia Vaz. Funcionou por alguns anos, mudando-se, depois, para um cômodo no prédio antigo da Prefeitura, à rua professor Antônio Freire de Souza, onde, depois, instalou-se o Serviço de Alistamento Militar. Muitos anos depois, quando os serviços de telefonia passaram para a Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, através da COTESP – Cia. Telefônica de São Paulo, ali ainda trabalhavam: Lenita Almeida, Maria Aparecida Vaz, Fátima Serafim, Sônia Novack e Helena Ribeiro. Permaneceram até a instalação do sistema automatizado DDD, totalmente moderno, que dispensou os serviços das telefonistas.

 

Como referência histórica, antes de 1946, existiu duas linhas telefônicas particulares no município.  Ligadas ao posto telefônico de Cesário Lange, a primeira foi construída por Pedro Domingues Nogueira (comerciante em Porangaba) e a segunda por João Sebastião Vieira (comerciante no bairro dos Mirandas), mas ambas tiveram pouca duração por problemas diversos e políticos. Foram construídas em épocas diferentes, a partir dos anos 30 do século passado. No final dos anos 50, mesmo com a linha telefônica municipal funcionando, o comerciante Adélio Antunes da Rosa, do bairro dos Ferreiras, teve sério desentendimento com o prefeito do município por utilizar a rede para ligar o seu aparelho particular. Em decorrência, como não houve acordo, mandou fazer, por conta própria, uma rede particular ligando sua propriedade à cidade de Cesário Lange. O confronto provocou o agravamento da pendência, com o prefeito mandando interromper o funcionamento ( cortar a linha ), fato que gerou inimizades, prejuízos e a desativação provisória. O assunto foi parar na justiça e, tempo depois, o comerciante ganhou a demanda e passou a utilizar a linha direta. Não entrando no mérito, são  curiosidades que merecem registros.

 

Foto: “Switchboard” by Takashi Toyooka at https://www.flickr.com/photos/takashi/44986212

 

 

Júlio Manoel Domingues

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