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19 de abril de 2013 - A Irmandade do Divino em Porangaba

Herdamos a Festa do Divino dos portugueses, mas o folclore europeu adaptou-se à realidade brasileira e deslocou-se  no calendário, tornando-a polarizadora de várias festas populares principalmente entre os paulistas. Faz parte do folclore dos bandeirantes. A respeito da cerimônia, ouvimos o saudoso Antônio de Arruda, conterrâneo, respeitável cidadão, católico, participante da Irmandade, um pouco antes de seu falecimento. O seu depoimento,a seguir, é um registro exclusivo, curioso e elucidativo:

 

 

“ Eu vou contar como começou a Irmandade do Divino Espírito Santo por aqui. No começo, a festa do Divino Espírito Santo era  diferente;  os homens católicos, de idade mais avançada,  dirigiam-se à capela onde era realizada a festa.  Ali  eram expostas as bandeiras e aquele que quisesse poderia pegar uma  bandeira e sair com ela o ano inteiro, visitando as casas de famílias e ainda poderia receber ofertas e gratificações. Uma porcentagem da arrecadação era para a festa e o restante era utilizado para as despesas feitas durante o ano. No mês de abril, todas as “bandeiras” se reuniam num determinado local, onde se realizava  a festa, quando faziam  a entrega de uma importância (que era a comissão) para a Igreja. Ao término da festa,  quem quisesse,  poderia pegar novamente  a bandeira. Era o costume da época nas redondezas de Tatuí, Conchas, Anhembi, etc.;  eram os bandeireiros, os que costumavam sair com as bandeiras, mas curiosamente  nenhum deles cantava.

 

 

Então, apareceu um deles, chamado por João Ferreira, que tinha um casal de filhos  – Claudino Ferreira e Maria Ferreira – que também pegavam bandeiras e, então, tiveram a idéia de ir até as  casas e cantar, saudando o dono  e  a família. Até que um dia, aconteceu um milagre. Existia um casal bastante jovem, sendo a mulher paralítica em decorrência de um parto mal sucedido. O marido fez um pedido ao Divino Espírito Santo para que sua esposa sarasse e, caso fosse atendido, o primeiro bandeireiro que ali chegasse seria recebido com uma festa.   O pedido foi atendido. O primeiro a chegar foi João Ferreira, que cantou e saudou todos da casa.  Ali pousou e orou pelo cumprimento da  promessa. Reuniu muita gente, porque ficaram sabendo do milagre  e, então, o povo se “agarrou” com mais fé ao Divino Espírito Santo. Comprovado o milagre, o bandeireiro  João Ferreira, que também castigava aqueles que não se comportavam a e abusavam da fé,  dirigiu-se para a  casa de outro casal, onde somente a esposa se encontrava e ele cantou para saudar a família.  A mulher recebeu a bandeira com muito carinho porque era muito religiosa. O bandeireiro pediu comida e ela disse que iria preparar. Pegou um frango que estava cantando e o matou, para fazer a comida o mais depressa possível.  O marido, que não acreditava no milagre do Espírito Santo, estava trabalhando e quando chegou ela lhe contou que tinha recebido a bandeira e que estava preparando o almoço, daí ter matado o frango. O marido irritado começou a discutir e a maltratar a esposa; uma briga que se estendeu até a noite.  Quando chegou a meia noite, escutou um frango cantar e ele assustado parou de amolar a mulher. No dia seguinte, levantou cedo e quando abriu o portão, o frango apareceu na sua frente e cantou outra vez.  Diante do ocorrido, ele ficou muito nervoso e a partir daí começou a acreditar e pediu perdão à sua mulher.

 

 

O fato aconteceu, foi muito comentado, mas com o passar do tempo, o sistema de bandeireiro foi se modificando. Faleceu João Ferreira, mas os seus discípulos  levaram adiante  o festejo. Resolveram então buscar a ajuda das paróquias, transformando o grupo em Irmandade. No início viajavam a pé; hoje  viajam de caminhão. Os padres, visando melhorar a organização, pediram às diretorias das irmandades que organizassem comissões. Agora, existem 3 Irmandades importantes do Divino Espírito Santo:  Irmandade de Anhembi, Irmandade São João, Irmandade Capela de São Sebastião.  A Irmandade do bairro da Capela de São João tem diretoria completa. É formada pelo diretor Tonico Rosa  (que usa a palavra do Santo Evangelho);  o diretor é Julião Venâncio;  o vice-diretor é Jaciro e o presidente Aparecido Gomes, Existem dois capelães: Lázaro Soares da Silva e Antônio de Arruda. A festa do Divino Espírito Santo começou há muitos anos atrás, mais ou menos,  em 1882”.

 

Júlio Manoel Domingues

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