ARTIGOS PUBLICADOS

16 de fevereiro de 2013 - A Revolução de 1924 e os Porangabenses

A Revolução Paulista de 1924, também chamada de Revolta Paulista, foi a segunda revolta tenentista. Foi o maior conflito bélico já ocorrido  na capital paulista. Deflagrada em São Paulo no dia 05 de julho de 1924, o movimento ocupou a cidade por vinte e três dias, forçando o presidente do estado, Carlos de Campos, a fugir para o interior. O Palácio de Campos Elíseos, sede do governo na época, foi bombardeado pelas forças federais. No interior aconteceram rebeliões e diversas prefeituras foram tomadas. Isidoro Dias Lopes, oficial gaúcho (federalista na época de Floriano Peixoto), passou a ser o líder ostensivo da revolta. Os revoltosos foram derrotados nos primeiros dias de agosto de 1924.  (Wikipédia )

 

 

Naquela época, o distrito de Porangaba pertencia ao município de Tatuí e,  para  entender a participação dos porangabenses no conflito, recorremos às notícias publicadas ( resumos) no jornal “ O Progresso de Tatuhy”.  Vejamos:  Edição nº. 95, de 18/08/1924A Revolução em  Tatuí.  “Muitas localidades do Estado tiveram a visita de bandoleiros que depuseram os governos municipais e se apoderaram das cidades, auxiliados pelas oposições políticas locais. Tatuí constituiu exceção pelos  esforços e coragem do prefeito e da população que se  armou para a defesa legal e política da cidade. Organizou o  batalhão de voluntários e  mandou uma parte para colaborar com o Batalhão Fernando Prestes, em Itapetininga. O grupo, composto de vinte e tantos moços desta cidade e de Porangaba, tem prestado serviços inestimáveis, tendo tomado parte nos combates de Pantojo, Mairinque, da Serra de Botucatu.  Edição n. 98, de 07/09/1924 – “Bellíssimo Exemplo” – “Acabam de regressar dos campos de batalha os bravos voluntários que daqui partiram na defesa da legalidade. São eles: José Fernandes  Ruivo, Manoel França, Palmiro Paes, Genésio Palmeira, Antônio Alves Pereira, Oscar Moreira da Rosa, Lázaro Benedito dos Santos, Rodrigo Passarinho, Pedro Rodrigues Cavalheiro, Jerônimo Azambuja, Salustiano Ramos de Oliveira, Alcides Teodoro, Manoel Vieira de Camargo, Onésimo de Camargo, Estevão Colaço e Laurindo Minhoto Júnior. Todos se incorporaram ao Batalhão Fernando Prestes, comandado pelo  dr. Eduardo Silveira da Motta, juiz de direito desta comarca, no posto de coronel ”.

 

 

A volta dos Voluntários de Tatuí- Foi magnífica a recepção feita aos voluntários de Tatuí. Ao saber que o Batalhão  voltava para Itapetininga, muita gente se dirigiu à estação e quando o comboio especial chegou, ouviu-se uma longa salva de palmas e vivas aos defensores da legalidade.  Organizou-se um cortejo que  se encaminhou para a Câmara Municipal, onde o dr. Laurindo Minhoto falou em nome do município. À noite, foi oferecido um jantar aos voluntários, tendo estado presentes, além de pessoas desta cidade, representações de Cesário Lange e Porangaba.  Ao “champagne”, discursou o sr. Lino de Barros, diretor das escolas de Porangaba e, em seguida, o dr. Laurindo Minhoto Júnior respondeu, agradecendo em nome de seus colegas. Após o jantar, todos se dirigiram ao Elite Clube Tatuiense, onde foi promovido um “assustado”, que, com grande animação, durou até a madrugada”. Em Porangaba  - Não foi menos significativa a festa que prepararam aos seus filhos. São eles: Genésio Palmeira, Pedro Cavalheiro e Estevão Colaço. Acompanhado por uma banda de música, o povo se reuniu na entrada da cidade e ali recebeu, entre aclamações, esses três bravos. Saudou-os o sr. Afonso Avallone Júnior e, em seguida,  dirigiram-se à residência do sr. Joaquim Francisco de Miranda, onde o sr. Lino de Barros pronunciou um discurso em nome das autoridades locais. À noite, houve um baile concorridíssimo na residência do Capitão Miranda”.

 

 

Conforme descreveu o autor Gentil de Oliveira, “Os voluntários porangabenses Estevão Colaço e Pedro Rodrigues Cavalheiro receberam as divisas de cabo como recompensa pela bravura. Cavalheiro foi considerado o soldado mais alegre do batalhão e não menos valente. Foi promovido a cabo, mas por uma travessura foi rebaixado, entretanto, alguns dias depois, ostentava novamente com orgulho as divisas perdidas… Duas vezes promovido! ” Pedro Cavalheiro – “Figura notável à sua época. Depois de fazer a ronda dos bares, onde se embebia de muita boa idéia, ia para um dos bancos do jardim da praça, pondo-se a dizer poesias românticas e clássicas; quase sempre de Fagundes Varela, assistidas por nós os jovens sonhadores, iniciados por ele, no romantismo caboclo. Terminada a sua declamação, vociferava, entre gestos e perdigotos: – “Vocês não sabem o que é ter sentimentos”.

 

 

Conheci o Pedro Cavalheiro; já velho e irreverente. Vivia sozinho e se ocupava de pequenos  serviços:  foi ajudante em armazém, comprador de aves e ovos e lavrador. Seresteiro, conhecia o cancioneiro brasileiro como ninguém, cantando com desenvoltura as composições de Paraguaçu, Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense. Passados tantos anos, veio a grande surpresa e viemos conhecer a sua faceta de herói! Foi um revolucionário. O Cabo Pedro, quem diria? O mais alegre do Batalhão! Já doente, dormia numa  “tulha” que existia na “rua de cima”, onde era ajudado pelos amigos. Faleceu em Porangaba em 1948.  Pouco conhecemos do Estevão Colaço; nasceu aqui, foi jogador de futebol e ator do grupo teatral da cidade. Seu nome completo era Estevam Antônio de Medeiros. Faleceu em Tatuí.  O mesmo ocorre com Genésio Palmeira, (sobrinho de Firmino Palmeira), que veio de Pernambuco e  faleceu em São Paulo. Nada mais. Os três ainda são lembrados pelos conterrâneos mais idosos. Só restam saudades e a eterna gratidão pelo que  fizeram em prol da legalidade e da democracia.

 

 

A participação porangabense na revolução foi marcada por um sentimento nacionalista muito forte, pois o movimento mexeu com os brios dos paulistas. Não nos surpreendeu o voluntariado, já que em todos os movimentos em prol dos ideais democráticos, na defesa do poder constituído deste País, sempre identificamos filhos de Porangaba. Foi assim  nas Revoluções de 1930 e 1932 e também na Segunda Guerra Mundial. O tempo é implacável e, infelizmente, os voluntários daqui não são mais lembrados. São passados 87 anos…

 

Júlio Manoel Domingues

«  VOLTAR

O conteúdo dos links está em formato PDF. Se você não possui o Acrobat Reader,
clique aqui para fazer o download gratuito.