Uma das grandes agremiações políticas do Império, o Partido Liberal reunia defensores de idéias renovadoras e de maior autonomia das províncias, contrapondo-se ao Partido Conservador. A Revolução Liberal de 1842 originou-se, conseqüentemente, das disputas políticas entre os “liberais” e “conservadores”. O levante dos liberais de São Paulo e de Minas Gerais começou em Sorocaba que foi, inclusive, proclamada a capital da Província de São Paulo, onde o movimento foi liderado pelo ex-regente padre Diogo Antônio Feijó e pelo brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar. O Partido Liberal havia conseguido eleger a maioria dos deputados para a Assembléia Geral em 1842, mas o Partido Conservador, alegando que houve fraude, buscou invalidar o pleito. Então, o Conselho de Ministros solicitou a D.Pedro II a anulação e o Ministério Liberal foi dissolvido; os Conservadores retornaram ao poder. Não aceitando a decisão, os liberais iniciaram a revolta. A resistência ganhou força, tanto na capital como no interior da província paulista, com o apoio da maçonaria. Tobias de Aguiar foi aclamado presidente paulista e, ao perceber que não contava com o apoio esperado, inclusive pela incerteza do sucesso dos revoltosos mineiros, transferiu-se para Itu e, depois, para Sorocaba. Ocorreu uma série de confrontos, mas, pouco a pouco, o Governo começou a dominar a situação, tendo a frente Duque de Caxias. Este ocupou diversas cidades e chegou triunfalmente a Sorocaba, derrotando os revoltosos. Tobias de Aguiar fugiu para o Rio Grande do Sul, onde foi preso e transferido para o Rio de Janeiro. No ano de 1844 foram anistiados todos que participaram da revolução.
O povoado do Rio Feio não existia, oficialmente, em 1842; era somente um bairro de Tatuí – um ponto de pouso de tropeiros. A maioria da população vivia dispersa nas imediações. Diante do conflito e como Tatuí foi palco de confronto direto entre conservadores e liberais, com muitas pessoas envolvidas, não seria surpresa se algum morador do Rio Feio fosse revolucionário. Ao pesquisar, encontramos, comprovadamente, dois nomes: Ignácio José de Oliveira , Liberal e Ignácio Xavier de Freitas , Conservador; ambos fazendeiros de tradicionais famílias que vieram de Tatuí. Na obra “Tatuhy Através da História”, o dr. Laurindo Dias Minhoto cita: “Teve grande destaque tanto pró como contra-revolução. Organizaram-se dois batalhões adversos, sendo os liberais chefiados por Ignácio Xavier Cesar, com mais ou menos duzentos homens, dentre os quais se destacaram: José Gurjão Baptista Aranha Cotrim, Bento Antunes de Camargo, Apolinário José Rodrigues, padre José Norberto de Oliveira, Luiz de Abreu Castanho, Manoel Fidêncio Padilha, Antônio Manoel de Moraes, Theodoro José de Camargo, Jerônimo de Barros Lima, Ignácio José de Oliveira, Antônio Rodrigues Costa e Manoel José da Silva Pompeo. Os conservadores chefiados por Antônio Xavier de Freitas foram: Antônio Ribeiro de Campos, Claudiano José de Proença, José Martins Fiuza, Bernardino José de Toledo, João Carneiro de Oliveira, José Ignácio da Silveira Garcia, Manoel Theodoro de Camargo e Souza, Francisco Leite de Paula, Ignácio Pinheiro de Camargo, João Henrique Teixeira, padre Manoel Teixeira de Almeida, João Correa de Moraes, Veríssimo José Coelho, Francisco José Coelho, Manuel Paes de Almeida, Jacinto da Silveira Garcia, alferes José Maria de Camargo Pires, Antônio Castanho Fiuza, João Manoel Fiuza, Manoel Paes de Araújo Fiuza, Manoel Paes de Araújo, Ignácio Mendes de Almeida, José Luciano Leite, Antônio José de Proença, Jerônimo de Proença, Ignácio Xavier de Freitas, Francisco Xavier de Camargo, José Rodrigues Novaes Pinheiro, Joaquim de Almeida Leite, José Pinto de Almeida, Manoel Jacintho – todos homens de prestígio e figuras de destaque.
O conservador Ignácio Xavier de Freitas sempre esteve ligado ao bairro do Rio Feio. Fazendeiro, escravocrata, ali viveu por muito tempo e foi onde, inclusive, faleceu em 09/06/1869; tinha 70 anos de idade. Antes, no mesmo bairro já havia morrido a sua esposa Maria da Purificação, precisamente no dia 08/06/1868, com 60 anos de idade. Ambos foram sepultados no cemitério de Tatuí. O liberal Ignácio José de Oliveira, patriarca de tradicional família porangabense, foi casado com Messias Maria da Conceição e dentre seus filhos destacamos: Simão José de Oliveira, o nosso primeiro Agente de Intendência e Joaquim José de Oliveira Falcão, fazendeiro e sogro do sr. Isaias de Oliveira Vaz. Era, portanto, bisavô materno do sr. Benedito de Oliveira Vaz, ex-prefeito de Porangaba.
Ao concluir, entendemos que o fato reportado, além de curioso, é um registro importante à História de Porangaba. O resgate mostra que os moradores pioneiros, os nossos ascendentes caboclos, apesar das dificuldades de comunicação e do isolamento em que viviam, não foram omissos e alheios às mudanças políticas da província. Sempre participaram dos movimentos e defenderam os seus ideais, como no caso em questão, embora pertencessem a grupos antagônicos.
Foto: Brigadeiro Tobias de Aguiar, Óleo de A.Barbieri em exposição no Museu Histórico Sorocabano.
Júlio Manoel Domingues
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