ARTIGOS PUBLICADOS

3 de janeiro de 2016 - Alfaiates de Porangaba

Porangaba já teve os seus alfaiates. A partir de 1.900, mais ou menos, apareceram os primeiros artesãos; eram ambulantes e permaneciam por pouco tempo. Depois, com a vinda principalmente dos italianos,  alguns chegaram a se fixar por aqui. Infelizmente, faltam documentos para resgatar os nomes. Alguns profissionais ficaram até meados do século passado e depois, praticamente,  desapareceram. Na foram muitos. No início, sendo a moda muito diferente e como a grande maioria da população usava roupas simples feitas de panos mais grosseiros como o brim ( “aço”, “pele do diabo”, etc.), poucos utilizavam os serviços do alfaiate. Outro empecilho era o preço; a roupa sob medida era mais cara. Àquelas, usadas na roça, mais rústicas e resistentes, eram preparadas pelas próprias costureiras, as chamadas calceiras e camiseiras. (Muitos ainda se lembram da Nhá Maria, esposa do Silvério Candido e da saudosa dona Carmela Novais!).

 

Somente os homens mais abastados e de posição é que tinham os seus “aparelhos” de roupas feitos sob encomenda. Usavam um tipo de brim de melhor qualidade, tipo Rockfeller. Essas roupas já eram então em tecidos mais “finos”, principalmente de casimira ( tecido de lã ) inglesa. Os alfaiates daqui atendiam uma clientela mais simples, os sitiantes, menos exigentes e, por outro lado, os de Tatuí (onde predominavam os italianos Del Fiol, Arato, Nastri, Bertanha, Beltrami, etc) atendiam os nossos conterrâneos mais ricos.

 

O que sabemos com segurança é que em 1912 chegou o italiano Luigi  Angelini (Gijo), que já havia exercido a profissão nos Estados Unidos da América, onde viveu por algum tempo. Recém casado na Itália, optou por morar em Porangaba, aonde chegou com a esposa Rosa que antes já havia residido por aqui. Contam (os próprios familiares) que fazia roupa por encomenda, simples, e a entregava no mesmo dia. Atendia os viajantes e as necessidades do pessoal da roça. Adaptou-se aos costumes locais. Não exerceu a profissão por muito tempo, mudou de ramo e tornou-se um dos comerciantes mais importantes da região, um atacadista, que financiava os pequenos agricultores para pagamento nas colheitas. Patriarca da tradicional Família Angelini, de Porangaba.

 

Outros nomes que ainda são lembrados por aqui: Francisco Stefanoski, Zezinho Alfaiate, Francisco Nunes de Oliveira, Francisco Nunes da Silva,  Mário Amaral, Alfredinho Galvão, Benedito de Barros (o saudoso Dito Alfaiate), com seus irmãos Zezico e Mozart, José Galvão, Pedro Couve (Tatuí), Zé Anselmo, Manoel Alfaiate, Pedro Pereira, Firmino de Mello, Dirceu de Mello (Pereiras), Estevão Ianoski, etc.

 

O saudoso Estevão Ianoski  foi  o último; descendente de poloneses,  veio do Paraná, via Tatuí, e aqui trabalhou muito tempo.  Já idoso, mudou-se para aquela cidade, aonde veio a falecer. Foi muito estimado, principalmente pelos  moradores da zona rural que formavam sua maior clientela.

 

É possível que muitos porangabenses , notadamente os mais jovens, nunca tenham entrado numa alfaiataria,  mas não podemos ignorar que esses profissionais ainda continuam em atividade,  principalmente nas grandes cidades.  Hoje, é possível aceitar que a profissão esteja em extinção e basta observar que na própria cidade de Porangaba  já  não temos alfaiates. Quanto às roupas, propriamente, tudo se alterou, os modelos são padronizados com  numerações e tamanhos variados, disponíveis nas lojas e magazines para pronta entrega. São produtos quase  que descartáveis.

Foto: “ Singer Machine, oakSPhoto” by Luke Oakley at https://www.flickr.com/photos/oaksphoto/8625988779

 

 

Júlio Manoel Domingues

«  VOLTAR

O conteúdo dos links está em formato PDF. Se você não possui o Acrobat Reader,
clique aqui para fazer o download gratuito.