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20 de maio de 2018 - As Brigas de Galo em Porangaba

Bertrand Russel num de seus livros salienta que uma das necessidades fundamentais do homem é ser admirado e Jorge Americano emenda: “Quem não pode ser admirado em si, quer sê-lo por via do galo que tem, ou da mentira referente ao galo que diz que teve. (Fonte: São Paulo Naquele Tempo (1895-1915, Jorge Americano, Editora Carrenho 2004).

 

A“briga de galo” era comum entre os gregos e romanos em 5.000 A.C. A prática era regulamentada por códigos e os romanos a consideravam uma diversão de crianças. Na Grécia, entretanto, ganhou força por estimular o espírito de combate dos guerreiros. No Brasil, o costume foi herdado dos colonizadores espanhóis e portugueses. Essa contenda foi muito comum por aqui e apreciada até meados do século passado. Era distração só para homens, para preencher as horas de folga. Alguns historiadores afirmam que foram os portugueses que trouxeram do Oriente os primeiros galos brigadores, popularmente chamados de “galos índios” que se espalharam por toda parte. Em 1961, a “briga de galo” foi proibida no Brasil pelo presidente Jânio Quadros, mas, um ano depois, voltou a ser legalizada por Tancredo Neves. Finalmente, em 1998, considerada contravenção e crime ambiental pela violência, foi proibida em todo território nacional. Infelizmente, ainda hoje é praticada de forma clandestina em alguns rincões de nosso país, estando os infratores sujeitos ao rigor da lei.

 

O local apropriado para a “briga de galo” chamava-se “rinha”; era, quase sempre, instalada nos fundos de quintais. As brigas eram acertadas de acordo com os pesos dos galos e envolviam grandes somas em dinheiro, prêmios e apostas. Ocorriam, às vezes, decisões inusitadas, cruéis, como por exemplo, até um galo matar o outro ou correr, com as esporas afiadas ou no batoque, etc. As rinhas foram comuns até meados do século passado e hoje, praticamente, desapareceram, mas, muitas vezes, são localizadas as clandestinas. Ainda, é possível que um ou outro entusiasta monte uma rinha irregularmente, principalmente nos sítios e fazendas, mas está infringindo a lei e pode ser punido. Antigamente, as brigas eram realizadas nos finais de semanas e existiam muitos “galistas”, além dos tratadores que se dedicavam ao malfadado divertimento que chamavam de “esporte”. O custeio não era barato, pois, como eram aves de raça, além da ração balanceada, ainda exigiam cuidados especiais e medicamentos. Comentavam que na seleção e na alimentação residia boa parte do sucesso dos galos briguentos. Era o apaixonante lazer dos mais privilegiados da sociedade, que compartilhavam com outros aficionados que gostavam de assistir os duelos e apostar. Por aqui, muitos criadores de galos mantinham a estrutura suficiente e necessária para a obtenção de bons resultados. Existiam, ainda, os tratadores fixos, rinhas próprias, passeadores, alimentação controlada e medicamentos. Os galos tinham os mais variados e curiosos nomes de guerra. Muitos se tornaram conhecidos em toda região, para alegria e lucro dos proprietários.

 

Galos conhecidos: Meninão, Palhaço, Socó, Alma de Gato, Pepe, Caviúna, Parafuso, Maquinão, Tarzan, Redondo, Almofadinha, Comequieto, Roxão, etc.

 

Galistas em Porangaba: José Colaço, Benedito Flores de Azevedo, Dassás Vieira de Camargo, João Sebastião Vieira, Antônio Miranda, Pedro Nogueira, Dinarte Velho, Miguel de Campos, Juvêncio Correa, Eurico Fogaça, Domingos Ignácio São Pedro, Manoel Emílio São Pedro (Nelo), Francisco Ignácio São Pedro, João Tonhã, Tertuliano, Nhô Gáudio, Nhô Chico Alves, Ventura Alves, Joaquim e Zé Quinzote, Nhô Pedro Telles, Horácio Cândido, Zé Dinarte, Antônio Dinarte, Quinzinho Dinarte, Ditinho Dinarte, Zoroastro Colombara, Pedro do Bar, Italo Biagioni, Elias Fadel, João Palmeira, Eugênio Grazioli, Rivadávia Spinola, Carlos de Almeida Barros (Carlinho Bicheiro), Brás Gica da Paz, Fernando Machado (Fernando Pavão), Erasmo Pedroso de Oliveira, José Honorato (Ferreiras), Ernesto Pedroso de Oliveira, Alfredinho Galvão, Alfredo Ares, Luiz Miranda, Zeca Fogaça, Armando Cândido, Minguito Nogueira, Renato Nogueira, Narciso Nogueira, Pedrinho Nogueira, Elias Nunes da Silva, Valter Carneiro, Jorge Alves, João Poli, Zeco Grazioli, Bazinho, Pingo, etc.

 

Rinhas que funcionaram antigamente nos quintais das casas na cidade: 1) do Zé Colaço, ( demolida, ficava na atual rua João Rosa de Oliveira, ao lado da casa de dona Helena Fogaça); do professor Benedito Flores de Azevedo, ( na casa ainda existente, à esquina das ruas 4 de Junho e João do Amaral Camargo, onde funcionou a loja do Elias Fadel); 2) nos locais onde funcionaram bares, todas na rua do Comércio, atual 4 de Junho: do Zoro (Zoroastro Colombara), do Gildo; do Pedro do Bar (depois do Candú), do Carlinho Barros (Bicheiro); depois do Brás Gica; 3) nos bairros (zona rural) também funcionaram algumas rinhas.como por exemplo: nas Partes, Pedrosos, Ferreiras, Fogaças, Saltinho, Cariocas, etc.

 

O poeta e pesquisador Onozor Pinto da Silva contava que: “ Em 1930, o professor Benedito Flores de Azevedo, diretor das Escolas Reunidas de Porangaba, apaixonado por briga de galo, possuía mais de uma centena de galos que eram tratados pelo seu pai Clemêncio Pinto da Silva; para tanto, mantinha uma rinha de formato circular no quintal de sua residência, onde eram realizadas as brigas nos finais de semana; chegava a ajuntar muitas pessoas que ali iam apostar e corria muito dinheiro”.

 

Foto: “Angry Rooster” de Jairo Alzate em https://unsplash.com/search/photos/angry-rooster

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

 

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