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25 de outubro de 2018 - As Casas de Barro em Porangaba

Lembro-me, muito bem, lá por 1945, das casas de barro, taipa ou pau-a-pique que existiam em Porangaba, tanto na cidade como nos sítios. A casa do João Rosa, nosso vizinho da “rua de cima”; dos Piragibu, na baixada, na zona ribeirinha na saída para Bofete; a da Chica Pereira, onde começava a rua do “lixo”. Nos sítios então, eram em número bem maior. Poucas de tijolos. Na chácara que foi do meu bisavô Manoel Cândido, conheci a casa onde morou o Damásio e, noutra propriedade do meu avô Bento, na encosta da Serra do Amaral, lembro onde morou o Dito Tuvica.

 

Na cidade, a que mais marcou foi a Casa do Toniquinho, meu colega de infância, pessoa simples e popular. Foi seguramente, dentre todas as moradias de barro na região urbana, a que mais durou, que resistiu a modernidade, pois, aos poucos todas foram sendo substituídas, demolidas. Hoje somente sobram na zona rural. A descrição dessas habitações simples, pequenas e baixas, com poucos cômodos e incômodas, e também caracterizadas pela semelhança em quase todas as regiões do país, pode ser assim entendida: “Nas áreas de cultura de sobrevivência, em todo Brasil, e durante um longo período que se estendeu aos inícios do século 20, predominavam condições de vida e visões do mundo relativamente similares. A começar pelas moradias, no geral choças construídas de pau-a-pique, de barro a sopapo, ou de adobe, cobertas de sapé ou de qualquer outra palha existente na região. Construídas com os materiais dispostos à mão, estacas de bambus, troncos das árvores, os tetos recobertos de sapé; o barro com o qual se recobrem as paredes, de início lisas e depois “estaladas em milhares de bocados” sob a ação do sol; poucos ou quase nenhum móvel; os leitos, simples esteiras postas no chão ou então redes; a cozinha que se limita a um fogareiro e pouquíssimos utensílios; as portas amarradas de treliças de bambu e cipó – tais foram elementos comuns às diversas descrições de habitações vindas de diferentes pontos do Brasil”. ( Fonte: Da escravidão à liberdade – Dimensões de uma privacidade possível – História da Vida Privada no Brasil – Nicolau Sevcenko/ Maria Cristina C.Wissenbach, 49 – Cia. de Letras).

 

A Casa do Toniquinho, a última casa de barro na área central da cidade, foi demolida no início de 1997 para a construção de outra em alvenaria. O local dista duas quadras da praça principal e fica na rua Dassás Vieira de Camargo, quase na esquina com a rua professor Antônio Freire de Souza. Para efeito de localização, hoje estaria ao lado do Centro Cultural “Abílio São Pedro”. A casinha de barro resistiu por muito tempo, mais de 50 anos; ali morou dona Geraldina (conhecida por Nhá Gerarda), mãe do Nêgo e avó do Toniquinho. As paredes eram de varas de bambu entrecruzadas (taquaras), recobertas de barro, conhecidas também por pau-a-pique. Para ser idêntica às casas rurais do passado somente faltava a cobertura de sapé. Outra casa de barro bastante lembrada era a que existiu na rua de Cima ( atual rua Bernarda Maria da Conceição ), num lote próximo ao Velório Municipal, onde morou por muito tempo, o Quim Pic Toc, figura bastante popular que veio do Bairro dos Polis e que utilizava muleta para caminhar, pois tinha uma das pernas atrofiada em decorrência de acidente que sofreu na infância. Como curiosidade, o Qui Pic Toc gostava de futebol e sempre jogava no gol usando a muleta para impulsão e defesas espetaculares. Era a sensação do 2º. quadro.

 

Foto: “Casa de pau a pique, típica no interior do nordeste”, de Glauco Umbelino em https://www.flickr.com/photos/geoglauco/1376815610/in/photolist-36Exjb-2TAcLX-23Qz8y.

Apoio Edição de Texto: João Lucas Fadel.

 

 

Júlio Manoel Domingues

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