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20 de março de 2016 - As Costureiras de Porangaba

Costurar e bordar eram exigências para ser uma boa dona de casa; eram atividades rotineiras do trabalho doméstico da mulher tanto no campo como na cidade. Poderia não estudar, mas era preciso saber cozinhar e costurar. Antes, as mulheres tinham uma jornada penosa, um ritmo de trabalho fatigante. As costureiras, logo cedo, tinham que adiantar os serviços da casa, preparar o almoço e atender os filhos, pois o trabalho com a tesoura, linhas, dedais, agulhas e a máquina de costura se estendia, muitas vezes, até à noite. As meninas já eram incentivadas, desde cedo, a se interessar pela costura, aprender a fazer adornos, enfeites, bordados, tricô e crochê. Mais tarde, passavam para o ponto cruz, das linhas mais grossas aos delicados fios de seda, até os mais sofisticados bordados e técnicas de acabamento. O aprendizado permitia introduzir um toque pessoal  numa  peça simples, transformado-a num objeto especial, surgindo então  sianinhas e rendas nas colchas e fronhas;  toalhinhas bordadas e rendadas; bicos de crochês nas toalhas e panos de prato; colchas de retalhos;  monogramas de diferentes estilos e tamanhos, etc. Antigamente, em Porangaba, existiram muitas costureiras; alias, em quase todas as famílias sempre uma se destacava. Tornavam-se artesãs por precisão e cuidavam das roupas de serviço e de passeio da família. Sabiam escolher os panos, que compravam nas lojas de tecidos e armarinhos e até ousavam produzir peças de melhor acabamento. Não se compravam  roupas prontas em lojas e muitas se tornaram costureiras respeitáveis, especializando em  calças, camisas, vestidos, etc.

 

Irma Nunes da Silva, minha saudosa mãe, foi costureira e das melhores! Hoje, chego a acreditar que costurava por prazer, pois era muito   prendada   na  arte  de coser  e  bordar. Lembro-me da correria matinal, lá em casa, quando tinha que atender os filhos e empregados, preparar as refeições e de ter tempo, ainda, para sentar-se à máquina de costura. Com paradas estratégicas, retornava à tarde e, após o jantar, ia até altas horas da noite. A rotina era quase diária e nunca a vi reclamando, mas mostrava-se cansada às vezes, pois a  antiga  máquina de costura, mesmo sendo da marca Singer ( a mais famosa ), exigia bastante esforço para a movimentação dos pedais.

 

Não existia, ainda, a máquina com motor. Trabalhava com tecidos finos e suas roupas se destacavam pelo corte, modelagem e refinado acabamento. Possuía uma clientela bastante fiel que lhe propiciava  bom rendimento. Diante da tanta habilidade e aptidão, fiquei surpreso  ao saber que ela  aprendeu a arte de corte e costura com dona Olívia de Oliveira Vaz, mãe do Frei Timóteo, que foi uma das mais importantes costureiras de Porangaba.

 

“No tecido da história familiar, as mãos de minha mãe reforçaram as costuras para me proteger de qualquer empurrão da vida…  As mãos de minha mãe uniram com um alinhavo as partes do molde sem esquecer que com cada uma é diferente da outra e que juntas fazem um todo como uma família… As mãos de minha mãe fizeram bainhas para que pudéssemos crescer, para que não ficassem curtos os ideais… As mãos de minha mãe remendaram os estragos para voltarmos a usar o coração… sem  fiapos de ressentimentos… As mãos de minha mãe juntaram retalhos para que tivéssemos uma manta única que nos cobrisse… As mãos de minha mãe seguraram presilhas e botões para estivéssemos unidos e não perdêssemos a esperança… As mãos de minha mãe aplicaram elásticos para nos podermos adaptar folgadamente às mudanças exigidas pelos anos… As mãos de minha mãe bordaram maravilhas para que a vida nos surpreendesse com as suas continuas dádivas de beleza… As mãos de minha mãe coseram bolsos para guardar neles as moedas valiosas das melhores recordações e da minha identidade… As mãos de minha mãe,  quando estavam quietas…, zelavam os meus sonhos para que alimentassem os meus ideais com o pó de suas estrelas… As mãos de minha mãe seguravam-me com linhas mágicas quando entrava na vida… para começar vesti-la! As mãos de minha mãe nunca abandonaram o seu trabalho… E sei muito bem que hoje, onde estiverem, fazem orações por mim.  E eu… Eu beijo-as como se recebesse bênçãos!” (Fonte: Poema “Alta Costura”, Autor Desconhecido).

 

Antes, as mulheres eram quase todas costureiras por necessidade. Alguns nomes são muito lembrados, mas montar a lista completa é  impossível. Citaremos  nomes coletados junto aos familiares e na própria comunidade:  Silvéria  Angélica, Umbelina Vieira, Nhá Maria Antônia (Cândido), Georgina Italiana, Maria Correa, Maria Brígida, Gertrudes Nunes, Dita Cubas, Tudinha, Rosa Nunes, Olívia Vaz, Luiza do Silvério de Oliveira, Amélia dos Reis, Amélia Pássaro, Carmela Novais, Totinha Carneiro, Rosinha do Ventura, Cotinha Vaz, Alaide Vaz, Irma Nunes, Silvéria Vaz, Amanda Carneiro, Marina Carneiro, Jolita Palmeira, Elvira Bueno,Teresa Cassetari, Carlina, Toninha, Lécia, Áurea Nunes, Laurinda Fadel, Rachel Nunes, Amásia, Leonilda, Nenê Miranda, Araci Tomé, Alzira Correa, Áurea Nogueira, Araci Tomé, Maria Colombara, Cecília Mariano, Dita do Valêncio, Maria de Campos, Deca Diniz, Balbina de Paula, Neguinha do Angelino,Irma de Oliveira, Irene Domingues, Terezinha do Carlos, Cecília Machado e outras.

 

Foto: “Irma Nunes Domingues”, acervo pessoal.

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

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