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28 de agosto de 2016 - Carroças e Carroceiros

A carroça foi aos poucos substituindo o carro de boi. Definida como “carro grosseiro, de tração animal, para o transporte de cargas”,  era o veículo mais rápido da época e que melhor se adaptava aos precários caminhos. Era muito utilizada nos sítios e fazendas, sendo de grande utilidade para os serviços agrícolas. Quase todo proprietário rural possuía a sua carroça.

 

Permitia, ainda, o transporte de cargas mais leves, em maior quantidade, de porta a porta, substituindo os serviços dos tropeiros. Os primeiros carroceiros ( já como profissionais e transportadores de mercadorias) foram os descendentes de portugueses, caboclos, negros e mamelucos, e depois tivemos os europeus, principalmente os italianos e espanhóis. Tiravam do trabalho, o sustento da família.

 

Transportavam de tudo, as cargas mais variadas, e era comum encontrá-los  descendo ou subindo escarpas sob o sol abrasador; outras vezes molhados pela chuva e sujos de lama e, mesmo, à noite, nas constantes idas e vindas,  na roça e na cidade, vencendo longas distâncias e enfrentando perigos imprevisíveis.

 

Alguns nomes: Antônio Leme, Manoel Pereira, João Martins, Francisco Novaes Sobrinho (Nhocada), Nazareno Italiano, Zelindo do Nazareno (Zelindo Tavante), José Maria (genro do Benedito Leme), João Nuchera (Carmelo), Teodoro, Heliodoro Camargo, João Rosa, José Felizardo (Zé Dinheiro), João Diniz, Silvério Diniz, João Lemes, Lourenço Lemes, Tonico Neto, João Neto, Lazinho do Valêncio, José Tomé, Amadeu Cassetari, Diogo Tomé, Isaias do Amaral, Amâncio e Delfino Pinto, Carlino Mendes, Mário Mendes, Elias Lemes, Pedro Lemes, Elias de Almeida, Tó Cláudio, Antônio Inácio, Francisco Mathias, Paschoal Atanázio, Nenê Teles, Silvério Nunes, Olívio Juliani, Antônio Jaco, Armando Cândido, Tico Bráulio, Sinardo, Mingo Machado, Dalico, Zezinho Pais, Lázaro Miranda e outros.

 

Com a chegada do caminhão, alguns carroceiros tornaram-se “caminhoneiros”. Um fato curioso ocorreu com Heliodoro Camargo (casado com Deolinda de Oliveira Pinto), que comprou um caminhão  usado e se deparou com grave problema – a falta de peças de reposição. Teve muita dificuldade e, praticamente, não chegou a usar o veículo, perdendo tudo. Voltou ao trabalho antigo, como empregado do fazendeiro João Príncipe de Moraes, no bairro da Areia Branca, Guareí, e, por uma ironia do destino, faleceu num acidente ao tombar a carroça.

 

Carroceiros e proprietários de carroças cadastrados na Prefeitura Municipal de Porangaba, 1928/30: Laurentino Luiz Fernandes, Lourenço Alves Rodrigues, João Paes da Silva, Benedito Celestino de Oliveira, Hygino Antônio Rodrigues, João Batista Mendes, Avelino José de Oliveira, Antônio Faustino Soares, José Xavier de Freitas, José Francisco Moraes, Jocundino Ferreira, Joaquim da Costa Machado, Joaquim Oliveira Cubas, Francelino Alves de Camargo, Benedito Alves de Camargo, Deolindo José Claudino, Joaquim Correa Machado, João Nuchera( Carmelo), Felisbino Manoel de Mello, Benedito de Almeida Machado, Antônio Antunes Rosa, João Diniz Vaz Filho, José Amaral Júnior, José Florentino Soares Sobrinho, Silvério Nunes da Silva, Luiz Orsi Amaral, João Nunes Diniz, Dionísio José da Rosa, Antônio Fogaça Leite, Antônio Esteves, Firmino Antunes Rodrigues, Feliciano Nunes da Silva, Antônio Manoel de Proença, Quirino Nunes da Silva, Francisco Subtil de Oliveira, Manoel Cândido Silvestre, José Rodrigues Ferreira, Nicanor de Paula Barreto, Felemon Soares, Antônio Victor Soares, Miguel Vieira de Campos, Domingos Silvestre Domingues, José Nunes Gomes, Antônio Nunes Vieira, João Luiz Machado, Domingos Saturnino Jacob, José Tomé, Pedro Dias de Camargo, Ângelo Afonso Camargo, Pedro Ribeiro Correa, Benedito Teodoro de Oliveira, Felix Nolé Oliveira, José Afonso Tricta, João Antonio Martins, Mariano Capuano,Dorival Manoel Rodrigues, Benedito Silva Pinto, Silvério Antônio Motta, Antônio Soares Silva, Antônio Bueno Fernandes, Eugênio Ribeiro Bueno, Esmereles Antônio Martins, Antônio Justino Silva, Joaquim Cubas de Miranda, Antônio Lopes de Almeida, Lázaro Soares Machado, Benedito Manoel Pereira, Benedito de Paula Leite, Luiz Bernardo de Moura, Francisco Alves de Camargo, Benedito Alves de Oliveira, Rafael Pássaro, Jaime de Oliveira, José Martins Ferreira, João Luiz de Paula, José Bráulio de Campos Mello, Eduardo Marques, Alfredo Florentino Soares, Orestes Ribeiro do Prado, Dassás Vieira de Camargo, Avelino José de Oliveira, Lourenço Paulino de Oliveira, Belmiro Modesto Camargo, Antonio Pereira dos Reis Filho, Antônio Alves Ferreira, Maurício Diniz Vaz, Silvino Barbosa Carneiro, Antônio Celestino de Oliveira.

 

Um fato curioso é que a rudeza desses serviços,  aliada às condições desfavoráveis de trabalho, mais  a rotina no dia a dia, sob sol e chuva, o desconforto dos pousos e caminhos, o afastamento temporário da família, etc., propiciavam a muitos desses homens  buscar  derivativos, daí  muitos deles se enveredarem para a bebida.  “  Quase todos, tropeiros e carroceiros, gostavam de “matar o bicho” e alguns chegaram a desafiar e medicina. Beberam a vida toda e tiveram longa existência, coração forte e pressão arterial normal, desconhecendo a palavra depressão. Dois exemplos: o Dalico e o Lazinho do Valêncio; nonagenários, ambos já falecidos. Sempre trabalharam. Nos últimos tempos faziam pequenos serviços, mas não abriam mão da “pinguinha”, reclamando unicamente da  qualidade da cachaça, afirmando que “naquele tempo, sim,  a pinga era pura e não subia!”.

 

O Olívio Carroceiro, homem simples, impressionava  pela resistência e dedicação ao trabalho em jornadas que pareciam intermináveis. Era visto em toda parte, desde o amanhecer até ao anoitecer, conduzindo sua carroça, entregando e carregando as mais variadas cargas. Formou uma família exemplar, voltada ao trabalho, e seus descendentes mostram hoje que assimilaram os exemplos e métodos do “patriarca”, constituindo um grupo de jovens empresários  que operam no ramos de materiais de construção, colaborando para o crescimento do comércio em Porangaba. Nos anos 40/50 do século passado, o carroceiro símbolo foi sem dúvida o saudoso ítalo-brasileiro Olívio Juliani o “Olívio Carroceiro”. Quantas saudades !

 

Foto: “Carroceiros defronte a Igreja Matriz, anos 20″, acervo pessoal.

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

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