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21 de junho de 2017 - Clube Recreativo 7 de Setembro

“ Os clubes sócio-recreativos no Brasil, na configuração que são conhecidos atualmente, tiveram grande difusão no final do século XIX até meados do século XX. Considerando a dimensão populacional vivendo em áreas urbanas, nesse período, é possível sugerir que muitas das histórias da sociabilidade clubística, confundem-se com as histórias da vida urbana da região em que estão situadas. Fatos de relevância histórica para algumas localidades contaram com a participação dessas associações, como acontecimentos políticos, econômicos, culturais e esportivos” . (Fonte: “Os Clubes Sociais e Recreativos. Uma relação de Hábitos e Costumes”; Camargo, Laura A. Rinaldi e Ruiz da Silva, Marcos – UFPR).

 

Até hoje, na historia de nossa cidade, tivemos somente dois clubes recreativos fundados, regularizados e registrados no Cartório de Registro Geral de Imóveis e Anexos de Tatuí. O primeiro foi o Clube Recreativo 21 de Abril, criado em 12/04/1920, a primeira sociedade recreativa da comunidade com a finalidade de estimular e estreitar a amizade, união e solidariedade entre seus associados e respectivas famílias. Para o surgimento dessa associação foi de fundamental importância a participação dos estrangeiros, os imigrantes europeus, principalmente os italianos e espanhóis aqui radicados. Antes, todos os eventos festivos e bailes eram realizados em casas de particulares. Eram bastante comentados os bailes nas casas do capitão Joaquim Francisco de Miranda, do tenente Antônio Paulino Telles, dos comerciantes: Bento Manoel Domingues (Bento Cândido), João Pedroso de Oliveira e João Batista Mendes (Jango Mendes). Segundo os saudosistas, aqueles “sim” é que eram os bailes de verdade, marcados pelas valsas, mazurcas, quadrilhas, polkas, “schottischs”, com mesuras, reverências e, principalmente, muito respeito. Verdadeiros saraus lítero-musicais variados, não faltando nos intervalos o chá com bolo e outras guloseimas. As reuniões dançantes, cantadas em prosa e verso, foram famosas e animadas, mas a cidade foi crescendo e precisou de um salão maior e apropriado. Os músicos já existiam, desde a chegada dos italianos e, dentre os próprios instrumentistas já se destacavam alguns aqui nascidos, o que em muito contribuiu para a criação da primeira associação.

 

A segunda assocação porangabense foi o Clube Recreativo e Esportivo 7 de Setembro, fundado em 30/04/1923 e que durou, mais ou menos, 20 anos.  Nasceu mais por divergências entre os próprios sócios do 21 de Abril que por idealismo, por discordância e rivalidade na política local e no futebol. Alguns participantes (um número reduzido), que tinham saído da primeira associação, usaram, no início, como justificativa, a situação sócio-econômica do grupo, colocando-se como os pobres, contra os associados do 21 de Abril que taxavam de ricos, a elite local. O sentido dicotômico tentado não funcionou, pois a sociedade porangabense não era organizada por castas. A separação não deixou marcas mais profundas, pois o 7 de Setembro teve vida curta, mas sempre independente. Houve muito polêmica e nada mais. A sede inicial ficava na rua 4 de Junho, no prédio onde funcionou o bar do Gildo ( depois a Padaria Central, do sr Jaurez Ramos, defronte à farmácia do saudoso Florival, que fora antes, por coincidência, a sede do clube rival. Ali, viveu um período bastante animado, com a exploração do carteado (jogos de baralho), que gerava boa receita, além dos concorridos bailes populares, os famosos “arrasta-pés”, com os melhores sanfoneiros da região. Para não fugir à regra, recebia todo povo, os mais pobres (os associados diziam que era o clube dos menos favorecidos), inclusive os poucos negros e seus descendentes que viviam na comunidade. Eram freqüentes, ainda, os bailes conduzidos por conjuntos musicais. Chegou a realizar carnavais, com muita alegria e entusiasmo, marcados pelos “Cordões do 7”, que saiam pelas ruas e empolgavam as pessoas. O primeiro presidente foi o barbeiro Juvêncio Firmino Correa. O clube chegou a viver períodos intercalados de intensa atividade e outros de apatia, passando sempre por dificuldades financeiras. Por exemplo, em 14/01/1939 houve a tentativa de reorganizar a sociedade, estando a frente os sócios que formavam a diretoria provisória: João Sebastião Vieira (presidente); Pedro Andrade Fogaça (vice-presidente); Benedito de Oliveira Vaz (1º. secretário); Erasmo Pedroso de Oliveira (2º. secretário); Stefan Maier (tesoureiro); Antônio Freire de Souza (diretor literário); João Rosa de Oliveira (diretor esportivo). Outros nomes que mais tarde viriam participar da direção: João Batista Mendes, Luiz Manoel Domingues, Antônio Alves Antunes, Dr. Aniz Boneder, Paulino José da Rosa (Paulo Telles), João Soares Palmeira, Dionísio José da Rosa (Nenê Telles), Mário Mendes, Carlino de Campos Mello (Tico Braulio) e outros. A rivalidade era tanta, que chegou a ter um conjunto de “jazz-band” exclusivo – o Galho Seco -, fundado em 07/09/1937, pelo músico Cezarino Antunes Correa. Os outros participantes foram: Lino Fogaça, Horácio do Bino, Nenê Telles, Paulo Telles, Tino dos Reis, Moacir Amaral, Dito Rosa, Antônio Português, João do Jango, André Machado, etc. Funcionou como zelador do clube, durante muitos anos, o sr. Clemêncio Pinto da Silva. Bastou o Clube 7 de Setembro encerrar as atividades, a rivalidade acabou e o 21 de Abril voltou a imperar; neste ano completou 97 anos de vida.

 

Foto: “Prédio atual, Clube Recreativo 7 de Setembro na última fase”, acervo pessoal.

 

 

Júlio Manoel Domingues

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