Consequência do Conflito Religioso de 1899 - O conflito religioso entre católicos e protestantes no Distrito de Bela Vista de Tatuí em 1899 é um o acontecimento que macula a história do município de Porangaba. A rigor, desde 1885, quando os pastores presbiterianos de Sorocaba e Botucatu iniciavam as suas pregações no povoado do Rio Feio, foram recebidos por membros da Família Amaral Camargo, antes católicos beneméritos e, então, o antagonismo cresceu e o enfrentamento era previsível. A partir daí, os católicos e protestantes passaram a se digladiar, não se tolerando, e aconteceram fatos marcados por ódio, discriminação e revanchismo. Na época também já se espalhavam as ideais republicanas pela província, que defendiam a liberdade de culto e os protestantes daqui, simpáticos ao movimento, fundaram então a Igreja Presbiteriana Independente da Bela Vista de Tatuí e um grêmio de leitura para instruir os “belavavistenses”. Foi a grande cisão no seio da comunidade católica local. O desentendimento se estendeu por cerca de duas décadas, provocando inimizades, pelo fanatismo exacerbado de ambas as partes. Geraram conseqüências diversas como: o rompimento de amizades, o respingo da discórdia nas atividades comerciais ( negócios) e até na separação de crianças na escola pública. Foram fatos lamentáveis; perseguições, ameaças e processos diversos. O atrito se agravou prá valer em 1897, quando chegou o primeiro padre católico residente para comandar a Capela, o italiano José Gorga, daí acontecer o Processo dos 37 Católicos dois anos depois..
O confronto mudou a história de Porangaba, pois muitas famílias que optaram pelo protestantismo simplesmente mudaram para outras paragens em busca de melhores dias e paz. A começar pela importante Família Amaral Camargo, formada por negociantes, fazendeiros, políticos, escravocratas, etc. O mesmo aconteceu com o capitão Francisco Cardoso da Silva e sua esposa América Kuntz Cardoso, a primeira professora da escola feminina do povoado. Muitas outras, especialmente da zona rural. Se aqui tivessem permanecido, certamente, muito poderiam ter feito para o progresso de nossa cidade.
As conseqüências foram negativas, mas pesquisando na Internet textos referentes à fundação do município de Iepê, SP, por indicação de amigos, fui surpreendido pelo conteúdo de um deles - Ref. “Causo e História contada por Dr. Celso William Cardoso Rodrigues – As primeiras efemérides de Iepê”, onde são citados os nomes dos moradores pioneiros daquele município, todos porangabenses e presbiterianos. É, certamente, a única coisa positiva desse tão desastrado rompimento religioso. Moradores da zona rural, a maioria do Bairro da Boa Vista, presbiterianos, resolveram reiniciar a vida no desconhecido sertão paulista e foram em busca de novas terras, de novos projetos, de novas oportunidades. Surge aí, então, a grande coincidência, pois, dentre as pessoas citadas está João Rufino Sant’ana, um dos arrolados no processo dos 37 Católicos. ( Ref. www.porangabasuahistoria.com – Capítulo 08 – Conflito Religioso, pag. 376 ). Concluímos, então, que algo de positivo ocorreu, pois com a emigração do grupo, esses conterrâneos contribuíram à fundação de uma nova cidade. Nasceu Iepê , que em tupi-guarani siginifica “liberdade”; deixaram Porangaba, que em tupi-guarani significa “ bela vista”. Podemos então conclamar que saíram da “bela vista” para a “liberdade”. São os desígnios do Criador.
” No final do mês de maio de 1917 chegam, abrindo a primeira picada, provenientes de Assis, ou melhor, de Dourado, atual Tarumã, Anfrísio Rodrigues e Júlia Coutinho Rodrigues, João Antônio Rodrigues e Isabel Galvão Rodrigues, juntamente com seus primos José Lino Santana e “Filoca” Rodrigues (irmã de Anfrísio e João), João Rufino Santana e Rosa, todos os homens, naturais da atual Porangaba, SP. Estes adquiriram conjuntamente a Fazenda 3 Coqueiros, cujos limites eram, do ribeirão Figueira, até a parte mais alta entre a bacia do mesmo e do Ribeirão Bonito. Logo a seguir chegam Antônio de Almeida Prado, Francisco Severiano de Almeida, Tertuliano Machado Coutinho e Brasilina Alves Moreira (sogros de Anfrísio), este último, mineiro de Borda da Mata, Minas Gerais, o qual adquiriu terras na bacia do ribeirão Patinhos. O primeiro nascimento ocorrido nas terras futuramente iepêenses, foi o de Nelson Coutinho Rodrigues, numa casa de barro às margens do ribeirão Figueira, filho de Júlia e Anfrísio, registrado em Conceição de Monte Alegre, hoje distrito de Paraguaçu Paulista, SP. A primeira escola, rural, iniciou-se ao lado da casa de Anfrísio, numa sala alta, sobre um chiqueiro de porcos, em sua fazenda, na água da Figueira. João, Anfrísio e Filoca, nascidos em Porangaba, SP, trouxeram junto sua mãe, Joaquina, natural de Petrópolis. Antes haviam morado também em Botucatu, Itatinga, Assis (onde Anfrísio instalou o primeiro açougue). Em Itatinga, foram donos da Fazenda Potrerinhi, atual horto florestal da USP, às margens da atual Rodovia Castello Branco, propriedade das famílias Rodrigues e Sant’Anna, onde um tio Sant’Anna (casado com uma outra irmã de João e Anfrisio) morrera picado de cobra. Os Coutinho moraram antes em Jacarezinho, Paraná, onde tiveram embates com índios e onças, quando então mudaram para a nascente Assis.” ( Fonte: “Causo e História contada por Dr. Celso William Cardoso Rodrigues. As primeiras efemérides de Iepê”).
Foto: “Beginning of the End, Karo Land, Ethiopia” by Rod Waddington em https://www.flickr.com/photos/rod_waddington/22180265382
Júlio Manoel Domingues
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