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19 de junho de 2012 - Fogos e Fogueteiros

Antigamente, as festas  religiosas e profanas eram comemoradas com a  queima de fogos de artifício que produziam barulho e iluminavam as noites escuras dos pequenos vilarejos e povoados. Existia certa magia nisso tudo e alegrava o povo. Um espetáculo de beleza e vida, luz e som, um costume tradicional. Aqui não foi diferente. Rememorando, foram os europeus, portugueses e italianos, que trouxeram essa tradição da técnica e da arte de fogos de artifício, inventada pelos chineses, para o Brasil. Chegou há muito tempo, pois o uso, de acordo com renomados historiadores, remonta ao início do Século 17.   

 

 

A primeira notícia encontrada sobre esse artesanato na Bela Vista de Tatuí foi no ano de 1909 e refere-se ao fogueteiro Antônio Dias Pereira. Depois, vieram outros nomes como:  Domingos Pereira da Silva (Domingos Fogueteiro), Adolfo Rosa e Justiniano Vieira Pinto – (na foto acima, o 1º da direita à esquerda, segurando o chapéu ). Não foram muitos. Já nos anos 40/50 do século passado, o destaque era o Beraldo da Luz Cardoso; ele  operava um aparelho de ferro chamado “roqueira”, onde colocava pólvora e chumbo e ao detonar provocava violenta explosão, uma salva de tiro imitando canhão. Era invenção portuguesa muito usada por aqui; uma descarga em honra de alguém ou por motivo de regozijo.  Quanto à atuação dos fogueteiros, selecionamos algumas curiosidades:

 

 

1) Justiniano Vieira Pinto–pessoa querida, bastante popular, foi membro do Conselho Consultivo Municipal de Porangaba em 1938, uma espécie de vereador durante o Estado Novo. Casado com dona Florinda, tinha uma filha;

 

2) em 18/11/1918 faltavam fogos na cidade e, conseqüentemente, rojões para as festas. É o que se pode deduzir na leitura de um bilhete enviado pelo sr. Josino Moraes Almeida a um  parente que morava em Conchas. É um fato curioso, pois o cidadão em questão, que era comprador de algodão por aqui, para a firma Pereira Ignácio ( Votorantim ), pedia a compra de 4 dúzias de rojões de 3 tiros e 2 dúzias de estouros, para as festas da bandeira e da vitória dos aliados ( final da 1ª. Guerra Mundial), que seriam comemoradas na Bela Vista de Tatuí. Termina laconicamente o pedido, lamentando: pois neste lugar nem rojão não há, imagine que terra! …;

 

3) no final de 1923 ocorreu gravíssimo acidente na oficina de fogos onde trabalhavam Adolfo Rosa e Justiniano Vieira Pinto, quando um incêndio, seguido de violenta explosão, destruiu o galpão. Sofreu queimadura generalizada o artesão Adolfo, irmão de João Rosa, filho da Rosa Preta, que  foi removido para a Santa Casa de Misericórdia de Tatuí, onde faleceu no início de 1924. Foi uma perda lamentável, pois se tratava de pessoa muito estimada e prestativa;

 

4) Domingos Pereira da Silva (Domingos Fogueteiro), sogro do carpinteiro Euclides de Oliveira Pinto (Clídio), foi quem adquiriu o primeiro automóvel na cidade. Persistem dúvidas quanto à data da compra; uns dizem que foi em 1919, outros garantem que foi depois de 1920 – tratava-se de um automóvel Ford, modelo “bigode”, comprado de José Sommerhauzer,  morador de Tatuí.

 

 

Os fogos de artifício eram fabricados de salitre, carvão vegetal e enxofre, com o acréscimo de outros materiais para a obtenção de efeitos luminosos, como: nitrato de chumbo, bário (para obter o verde), sódio (amarelo), cobre (azul) e limalhas de ferro para o efeito de chispas. O local de trabalho do fogueteiro era a tenda – uma oficina artesanal com poucos auxiliares, geralmente familiares ou pessoas de confiança. As rotinas de trabalho exigiam  precauções, mas que nem sempre eram suficientes para evitar acidentes. Na função, aqueles que mostrassem capacidade e criatividade na fabricação de aparelhos, rojões, morteiros, etc., com efeitos sonoros grandiosos, combinados com a beleza colorida dos fogos de artifício, se destacavam. Era comum, à época de festas religiosas, o esperado foguetório que destacasse o poderio do festeiro; o santo poderia ser esquecido, mas o patrocinador, não!  Bombas, morteiros, rojões e baterias não poderiam faltar, pois o que contava era o barulho. (www.jangadabrasil.com.br )

 

 

Passado tanto tempo, desde a chegada dos fogos de artifício ao nosso país, verifica-se que o uso desses artefatos de luz e fogo ainda cresce nas grandes cidades, nas festas comemorativas. No Natal e na passagem do Ano Novo, principalmente, são montados espetáculos caríssimos, indescritíveis pela composição de cores e formatos, com a presença de um público numeroso que se encanta com a pirotecnia. São televisados e mostrados ao mundo todo. Por outro lado, mesmo com o suporte de novas técnicas, ligadas à robótica e à informática para melhorar a segurança, já existem muitas restrições quanto ao uso de fogos pelos riscos que representam aos cidadãos. Apesar dos pesares, ainda é uma comemoração mágica que mexe com as pessoas.

 

Júlio Manoel Domingues

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