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2 de março de 2016 - Histórias que o Povo Conta

O Túmulo da Cigana - O saudoso Lazinho do Valêncio contava que desde menino já visitava o túmulo da cigana e que, ouviu dizer,  o óbito foi  em decorrência de um parto mal sucedido. Não houve o envolvimento da polícia no acontecimento e nem falava em espancamento como afirmavam outras pessoas. O jazigo é o mesmo que lá se encontra até hoje, (mas totalmente modificado ) o “Túmulo da Cigana”, e existem muitas  histórias. Como era coberto de pedras, sempre  remexidas pelos visitantes, a todos parecia que as pedras  mudavam de lugar, despertando muita curiosidade e se transformando num ponto de atração. Muitas pessoas passaram, então, a acreditar no poder da falecida, daí os pedidos, orações, promessas, a queima de velas, etc., além da colocação de objetos, “ex-votos”  e placas de agradecimento sobre o túmulo.

 

João Mendes de Almeida (João do Jango), outro conterrâneo de saudosa memória, já tinha versão diferente: dizia que ouviu também, na sua infância,  que a sepultura era de uma negra, cigana, que morreu por mal tratos impingidos pela polícia local e por pessoas da comunidade.  Estava grávida e antes de falecer, rogou a famosa “praga” que a cidade não progrediria por cem anos!  Parece que a maldição pegou…!

 

Outros idosos afirmavam que “ouviram contar” que a mulher estava grávida e foi presa, maltratada e faleceu. Era tia do negro Trajano, um tipo popular que veio do bairro dos Lopes e viveu por aqui.  Havia ainda  a  versão de que morrera num surto de “bexiga” aqui ocorrido. Em decorrência dos boatos, os “causos” confusos se misturavam ainda mais, especialmente com o  acontecido em 1920, quando a polícia chefiada pelo delegado Aureliano Palmeira expulsou uma caravana de ciganos que estava acampada nas imediações da cidade. Embora o fato não tenha nenhuma relação com a morte da cigana (ocorrido muitos anos antes), surgiram ilações fantasiosas, ligadas à imaginação popular, que aumentaram a falta de clareza do tema. O imaginário sobrepunha à realidade.

 

O “túmulo da cigana”, assim conhecido, é o mais procurado e visitado no cemitério local, onde as pessoas fazem suas orações e pedidos, acreditando fielmente nas graças recebidas. Porém, o fato mais surpreendente surgiu quando ouvimos o ex-coveiro José Augusto de Oliveira (o Zico), já aposentado, e que ali trabalhou por muitos anos. Perguntado sobre a “história da cigana”, confirmou que, embora os comentários fossem os mais diversos, a lápide ali existente foi colocada por um homem de “fora”, de outra cidade, um pedreiro ou empreiteiro que veio montar um túmulo aqui e que se interessou pelo caso. Retornou algum tempo depois com a inscrição numa pedra, onde consta o nome da morta e o ano do óbito: “Ana Silveira – 1895”, dizendo que obtivera os dados através dos seus poderes mediúnicos !

 

Diante do acontecido, foram feitas as consultas necessárias nos livros do Cartório de Registro Civil local e nenhum assentamento foi encontrado. A dúvida cresceu ainda mais. História ou lenda! Fato verídico ou folclórico?  Não existem provas, mas o povo acredita e as pessoas falam em milagres…!  Só nos resta dizer, com alívio, baseado na mensagem do “médium”: “ainda bem que a praga acabou em 1996” e que acordem os nossos governantes, pois a maldição sempre foi a desculpa  para justificar a inoperância e a falta de perspectiva  para o desenvolvimento de Porangaba”.  Vale como registro, acredite se quiser..!  Deixemos a cigana em paz…!

 

 Nhandica –  “Nhandica, mulher corajosa, morava com toda família lá pelos lados do Monjolão, bairro do Estreito, (hoje na divisa Torre de Pedra/Guareí), onde possuía uma grande propriedade. Tida como mulher rica, plantava e tinha criações. Exercia o matriarcado com rigidez, era curandeira e parteira. Naquela época, o padre que atendia o povoado vinha de Tatuí, periodicamente, para atender os fiéis para casamentos, batizados, etc. Numa dessas ocasiões, previamente marcada, Nhandica à frente de uma comitiva de parentes, moradores do bairro e amigos, veio para a vila trazendo uma filha para casar. Ficou tudo acertado que, após a cerimônia, retornariam para a tradicional festa do casamento. Logo que chegou, a decepção foi enorme, pois  o padre não viera pelo fato de estar chovendo copiosamente, há mais de uma semana, pelos lados de Tatuí. Que fazer! Mulher de iniciativa, após breve descanso, numa decisão  impetuosa ordenou o retorno imediato da comitiva, levando também o noivo. Já na estrada, ainda perto do povoado, ( próximo à chácara de dona  Silvéria Angélica da Fonseca Bueno, sogra do Capitão Miranda ) mandou parar o cortejo, chamou os noivos e resolveu, ela mesmo, celebrar o casamento, dizendo: – “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Quem ama com fé, casado é ” . Declarou os noivos casados, sacou o revólver e deu três tiros para o alto. Seguiram para a festa.  O casal teve filhos, foi  feliz e viveu muitos anos…”. (Fonte: Caso contado pelo saudoso Luiz Miranda, ouvido de seu pai  Silvério Miranda, acontecido com certeza antes da vinda do primeiro padre residente para a Bela Vista de Tatuí).

 

Foto: “Scary Owl – Manchester Museum” by Gidzy em https://www.flickr.com/photos/gidzy/19939000832

 

 

Júlio Manoel Domingues

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