O Túmulo da Cigana - O saudoso Lazinho do Valêncio contava que desde menino já visitava o túmulo da cigana e que, ouviu dizer, o óbito foi em decorrência de um parto mal sucedido. Não houve o envolvimento da polícia no acontecimento e nem falava em espancamento como afirmavam outras pessoas. O jazigo é o mesmo que lá se encontra até hoje, (mas totalmente modificado ) o “Túmulo da Cigana”, e existem muitas histórias. Como era coberto de pedras, sempre remexidas pelos visitantes, a todos parecia que as pedras mudavam de lugar, despertando muita curiosidade e se transformando num ponto de atração. Muitas pessoas passaram, então, a acreditar no poder da falecida, daí os pedidos, orações, promessas, a queima de velas, etc., além da colocação de objetos, “ex-votos” e placas de agradecimento sobre o túmulo.
João Mendes de Almeida (João do Jango), outro conterrâneo de saudosa memória, já tinha versão diferente: dizia que ouviu também, na sua infância, que a sepultura era de uma negra, cigana, que morreu por mal tratos impingidos pela polícia local e por pessoas da comunidade. Estava grávida e antes de falecer, rogou a famosa “praga” que a cidade não progrediria por cem anos! Parece que a maldição pegou…!
Outros idosos afirmavam que “ouviram contar” que a mulher estava grávida e foi presa, maltratada e faleceu. Era tia do negro Trajano, um tipo popular que veio do bairro dos Lopes e viveu por aqui. Havia ainda a versão de que morrera num surto de “bexiga” aqui ocorrido. Em decorrência dos boatos, os “causos” confusos se misturavam ainda mais, especialmente com o acontecido em 1920, quando a polícia chefiada pelo delegado Aureliano Palmeira expulsou uma caravana de ciganos que estava acampada nas imediações da cidade. Embora o fato não tenha nenhuma relação com a morte da cigana (ocorrido muitos anos antes), surgiram ilações fantasiosas, ligadas à imaginação popular, que aumentaram a falta de clareza do tema. O imaginário sobrepunha à realidade.
O “túmulo da cigana”, assim conhecido, é o mais procurado e visitado no cemitério local, onde as pessoas fazem suas orações e pedidos, acreditando fielmente nas graças recebidas. Porém, o fato mais surpreendente surgiu quando ouvimos o ex-coveiro José Augusto de Oliveira (o Zico), já aposentado, e que ali trabalhou por muitos anos. Perguntado sobre a “história da cigana”, confirmou que, embora os comentários fossem os mais diversos, a lápide ali existente foi colocada por um homem de “fora”, de outra cidade, um pedreiro ou empreiteiro que veio montar um túmulo aqui e que se interessou pelo caso. Retornou algum tempo depois com a inscrição numa pedra, onde consta o nome da morta e o ano do óbito: “Ana Silveira – 1895”, dizendo que obtivera os dados através dos seus poderes mediúnicos !
Diante do acontecido, foram feitas as consultas necessárias nos livros do Cartório de Registro Civil local e nenhum assentamento foi encontrado. A dúvida cresceu ainda mais. História ou lenda! Fato verídico ou folclórico? Não existem provas, mas o povo acredita e as pessoas falam em milagres…! Só nos resta dizer, com alívio, baseado na mensagem do “médium”: “ainda bem que a praga acabou em 1996” e que acordem os nossos governantes, pois a maldição sempre foi a desculpa para justificar a inoperância e a falta de perspectiva para o desenvolvimento de Porangaba”. Vale como registro, acredite se quiser..! Deixemos a cigana em paz…!
Nhandica – “Nhandica, mulher corajosa, morava com toda família lá pelos lados do Monjolão, bairro do Estreito, (hoje na divisa Torre de Pedra/Guareí), onde possuía uma grande propriedade. Tida como mulher rica, plantava e tinha criações. Exercia o matriarcado com rigidez, era curandeira e parteira. Naquela época, o padre que atendia o povoado vinha de Tatuí, periodicamente, para atender os fiéis para casamentos, batizados, etc. Numa dessas ocasiões, previamente marcada, Nhandica à frente de uma comitiva de parentes, moradores do bairro e amigos, veio para a vila trazendo uma filha para casar. Ficou tudo acertado que, após a cerimônia, retornariam para a tradicional festa do casamento. Logo que chegou, a decepção foi enorme, pois o padre não viera pelo fato de estar chovendo copiosamente, há mais de uma semana, pelos lados de Tatuí. Que fazer! Mulher de iniciativa, após breve descanso, numa decisão impetuosa ordenou o retorno imediato da comitiva, levando também o noivo. Já na estrada, ainda perto do povoado, ( próximo à chácara de dona Silvéria Angélica da Fonseca Bueno, sogra do Capitão Miranda ) mandou parar o cortejo, chamou os noivos e resolveu, ela mesmo, celebrar o casamento, dizendo: – “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Quem ama com fé, casado é ” . Declarou os noivos casados, sacou o revólver e deu três tiros para o alto. Seguiram para a festa. O casal teve filhos, foi feliz e viveu muitos anos…”. (Fonte: Caso contado pelo saudoso Luiz Miranda, ouvido de seu pai Silvério Miranda, acontecido com certeza antes da vinda do primeiro padre residente para a Bela Vista de Tatuí).
Foto: “Scary Owl – Manchester Museum” by Gidzy em https://www.flickr.com/photos/gidzy/19939000832
Júlio Manoel Domingues
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