Filho de Francesco Gorga e Rosa Guarino, nasceu no dia 20/10/1874 em Roccadaspide, Província de Salerno, Itália. Veio para o Brasil ainda jovem e em 1898 já estava na Bela Vista de Tatuí, onde o padre José Gorga, seu irmão, era o vigário da Paróquia. Na época, com o apoio do padre e de outros membros da comunidade, fundou a Banda de Música que mais tarde passaria a se chamar Banda Santo Antônio. Foi o primeiro maestro da corporação e tocava requinta (a temível clarineta em mi bemol. Dirigiu a banda por alguns anos, cujos músicos eram, na maioria, italianos. Viveu em Bela Vista até, mais ou menos, 1911/12. Marcou seu nome na comunidade como pessoa benemérita, solidária e atuante principalmente na parte assistencial à população carente. Além de músico, exerceu cargos importantes: sacristão, comerciante, agente do correio, representante do juiz eleitoral, delegado de polícia e Juiz de Paz ( na época, a maior autoridade local ). Mudou-se para Conchas e se dedicou ao comércio. Em 1917 foi eleito vereador. Em 1920 já era o proprietário do tradicional Hotel dos Viajantes naquela cidade. Não encontramos nenhum registro, referente à sua atuação como músico naquela localidade. Ali faleceu no dia 06/11/1930, com 56 anos de idade, sendo sepultado no cemitério municipal. Foi casado com d. Maria Ricco. Deixou filhos. (Foto: Acervo de Reinaldo Elias :- http://conchas-acidaderevelada.blogspot.com/ )
A banda de música foi a primeira atividade artística popular na Bela Vista de Tatuí, iniciada pelos italianos que chegaram no final do século 19. A referência mais antiga sobre a “banda” está no Livro do Tombo da Paróquia de Santo Antônio de Porangaba e registra a participação em eventos diversos, a partir de 1899, logo após a chegada do primeiro padre residente, o italiano José Gorga. Os músicos são citados como colaboradores. É, portanto, a prova irrefutável, considerando, ainda, que tocavam nas festas religiosas e profanas, nas recepções de autoridades e visitantes ilustres, nos leilões, etc. Os fatos registrados no Livro do Tombo comprovam a atuação da banda de música: a) a chegada triunfal do advogado Laurindo Minhoto, no dia 13/10/1899, no encerramento do processo movido pelos protestantes contra os católicos, quando foi recebido por um número considerável de pessoas e a banda de música; b) no lançamento da pedra fundamental do templo católico que foi construído na cidade: “no dia 01/06/1902, estando reunido o povo desta localidade e a banda de música, colocou-se a primeira pedra…”
O mestre de banda ( maestro para os italianos ), além dos conhecimentos musicais necessários à aplicação de sua arte, era geralmente um homem dotado de qualidades morais. Começava ensinando meninos e moços – os aprendizes – e exercia certa ascendência sobre os mesmos. Era líder e disciplinador, sabia dar ordens, defendia e representava os seus discípulos. Salvo raríssimas exceções, nenhum mestre e mesmo músico – não militar - vivia exclusivamente da musica. Normalmente, exerciam uma profissão ( muitos foram mestres de primeiras letras ) e à noite é que se dedicavam à banda. Era o homem dos sete instrumentos; conhecia praticamente todos, na teoria e na prática. Enquanto a maioria dos músicos tocava mais na base do ouvido, os mestres conheciam teoria musical, composição e harmonia, copiavam as partituras e eram fortes nos solfejos.
Músicos que tocaram com João Gorga: Pedro Caldeira, bombardino; Francisco Aires de Oliveira (Mestre Chico), requinta e bombardino; Agenor Ribeiro, pistão; Domingos Camerlingo, requinta e bombardino; Durvalino Teles, baixo; Horácio Camerlingo, rufo; João Manoel Rodrigues (João Lemes), harmonia; João Ribeiro (Ribeirinho), prato e bumbo; José Antunes Correa, harmonia; José Camerlingo, requinta e clarineta (foi depois maestro da Banda de Ipaussu); professor Francisco Carlos Machado, clarinete; Joaquim Batista, harmonia: Bino Mariano, bumbo; Roque Machado, baixo; Santino Biagioni, clarinete e requinta; Carmo Alpaio, baixo; José Leme (harmonia).
Um fato curioso, incomum, envolveu o maestro no início do século passado. O conflito religioso de 1899, entre os católicos e protestantes, conhecido como “O Processo dos 37 Católicos”, que aconteceu na Bela Vista de Tatuí, repercutiu, mais tarde, na vida particular do italiano. Estando noivo de uma jovem da sociedade local, cuja família se converteu à religião protestante, mesmo com a data do casamento marcada e já tendo sido publicados os proclamas, o enlace não se realizou por proibição dos pais da moça pelo fato do noivo ser irmão do padre. Fato lamentável e uma grade decepção para os católicos da comunidade.
Júlio Manoel Domingues
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