” A vida nos traz surpresas e coloca muitas pessoas no nosso caminho. Umas nos acompanham o tempo todo; outras são totalmente indiferentes. A convivência social nem sempre é pacífica. O relacionamento humano é difícil, mas em compensação, ao lado de amargas decepções, surgem sempre as grandes amizades. Os amigos especiais, que não são muitos, mas existem e marcam sensivelmente as relações afetivas. Não são aqueles que somente compartilham de nossas angústias e dificuldades, das nossas alegrias e satisfações, pois o vínculo é muito maior. A relação de ajuda é sublime e não se mede por favores, pela situação social, cultural, financeira, etc., mas por um profundo respeito e, às vezes, por uma simples palavra. São na verdade pessoas justas e sinceras, comuns, que nos cercam e protegem. Nada é falso, nada se perde; tudo é positivo.” (Mário Quintana)
Já são passados mais de três anos que ele nos deixou. Partiu de repente, sem avisar, como alguém que encontra naturalmente o caminho de volta. Hoje, restam somente as lembranças e saudades que ficarão para sempre, mas, sem dúvida, se aqui estivesse, certamente diria como Mario Quintana : “Para sempre é muito tempo, o tempo não para! Só a saudade que faz as coisas pararem no tempo”.
Certa vez ao referir-se a um amigo, o Papa Bento XVI o chamou de – “um grande amigo, meu!” – palavras sábias que dizem tudo. Digo o mesmo, também, sobre o professor Maurício Barreto, um grande amigo meu , que, infelizmente, nos deixou muito cedo. Pessoa querida e de elevado caráter, era o “Mauricio da Dona Carminha” para os mais próximos. Filho de Benedito Custódio Barreto e de dona Carmem Sinti Barreto, nasceu em Porangaba em 01/05/1951.Teve uma grande parte de sua infância muito feliz pelo apego e afeição do pai, que era seu grande ídolo. Eu o conheci ainda pequeno e me lembro de um menino forte, sadio e irrequieto; sempre brincando, correndo na loja do avô Cesário e fazendo travessuras. Segundo meu cunhado Júnior, que fazia parte da turma, o Maurício era o mais inteligente e sagaz de todos, briguento ( bom de briga! ) e atirava pedras melhor ainda ( lembrando que as ruas eram apedregulhadas ). Era o líder, o melhor no futebol e se destacava na escola. Infelizmente, a morte prematura do pai alterou a sua vida e de toda família. Era, ainda, um adolescente e então passou por sérias atribulações. Como filho primogênito preocupava-se com os irmãos e com suas responsabilidades. Irrompe, então, a força poderosa da mãe, uma extraordinária mulher, que assume as rédeas da casa e dos negócios, e educa os filhos com dignidade e responsabilidade, formando uma respeitável família que é motivo de orgulho para todos os porangabenses.
O tempo passou e em meados dos anos 60 eu o conheci melhor. Nasceu uma grande amizade, pois os laços de compadrio que ligavam os seus pais aos pais de minha saudosa esposa explicam a forte relação de respeito entre as duas famílias. O Maurício já havia mudado radicalmente. Totalmente diferente; tornara-se um jovem circunspecto. Perfectivo, adorava música, literatura, história, pintura, desenho e política. Era um “pemedebista” juramentado. Franco, polêmico, defendia suas idéias com fervor. Autodidata por força das circunstâncias, nunca quis deixar a terra natal, embora não lhe faltasse capacidade para viver fora. Sensível, desde cedo mostrou aptidão às artes, pois era um artista privilegiado, um artesão nato que pesquisava a própria emoção. Na sua forma de agir e pensar sempre encontrou caminhos para realizar os seus desejos e satisfazer os seus anseios.
Na fase adulta tornou-se um homem bastante culto, contestador e bem humorado, quando mostrava até certa inquietude na sua desmedida ânsia de saber. Sua franqueza era, às vezes, até contundente, pelo próprio estilo de vida que adotara. Por outro lado, nunca teve ciúmes de ninguém e tinha orgulho do sucesso de seus conterrâneos. Torcia por todos. Era o romântico e elegante Maurício Barreto que, ao inovar no próprio visual, servia de modelo para muitos. Cantava e louvava os seus amores platônicos até com certa ingenuidade, pois, tinha pressa e dizia que não havia tempo a perder; queria conhecer o máximo do mundo. Estudou em Porangaba ( 1º e 2º Graus ) e em Tatuí ( Artes Plásticas ).
Trabalhou, desde pequeno, na loja ajudando a mãe e depois como desenhista de plantas de imóveis, na preparação de materiais de divulgação e publicidade ( placas, faixas, cartazes, etc. ) e como professor. Colaborou no resgate da memória histórica de Porangaba oferecendo materiais diversos à pesquisa e foi o grande responsável pela publicação, fora do ambiente acadêmico, do “Manuscrito de Collon” – ( que lhe fora presenteado pelo Odilon Soares Ramos ) – o documento científico, escrito há mais de um século e que descreve o perfil litológico do solo de Porangaba. No dia 23/02/2005, para a tristeza de todos, faleceu, repentinamente, pois o único mal que cometeu foi descuidar de sua própria saúde; era um fumante contumaz e morreu pelas conseqüências do vicio. Estava trabalhando na Escola “Aldo Angelini “, e ele simplesmente apagou. Deus Pai, na sua infinita bondade, o chamou. A tristeza foi enorme. Como ele costumava dizer nas despedidas: “fica com Deus meu irmão”. Restam as lembranças e as saudades.
Júlio Manoel Domingues
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