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21 de novembro de 2013 - Nhá Bernarda e as Parteiras de Porangaba

No Brasil Colônia, as parteiras eram conhecidas como “aparadeiras”; depois, foram chamadas de  “assistentes”, sem que se alterasse seu precário ofício, exercido no início por  pretas velhas e “curiosas”. Num país desprovido de tradição camponesa, com uma imigração inicial – européia e africana – na maioria masculina – não existia a cultura tradicional das parturientes, transmitida noutras partes do mundo, ao longo de gerações, das avós, das tias e das mães para as filhas.

 

 

Aqui, no início do povoamento, as primeiras que chegaram já conheciam os procedimentos para o parto através de observações no ambiente familiar, grupal ou, ainda, por necessidade. Não tinham qualquer formação e, na falta do  médico, faziam esse importante papel. Umas eram nativas, caboclas, descendentes de escravos, etc. e outras imigrantes, sempre senhoras destemidas.

 

 

Não poderemos esquecer que, antes, por falta de informações,  havia “o pavor do parto”, pois os perigos que o rodeavam eram imensos, especialmente  pelas precárias condições de higiene, com consequências funestas para as mães e recém nascidos, os quais, em grande parte, eram frequentemente vitimados pelo tétano umbilical – o mal de sete dias. Qualquer complicação redundava sempre em óbito, ou morria o bebê  ou morria a mãe…!

 

 

Portanto, as mulheres se apegavam a tudo e os cultos religiosos ligados à proteção do parto revelam o temor ao risco da morte no momento do nascimento. Como a religião católica exercia uma influência dominante, existia a obrigação da confissão compulsória das gestantes. Ao estudar a evolução da família brasileira, observa-se que o  pânico das mulheres, com a perspectiva da própria morte durante o parto, levou muitas senhoras a ser mais tolerantes na aceitação dos filhos bastardos de seus maridos. No final do século 19, mesmo com condições sanitárias deficientes, a expectativa de sobrevivência dos nascituros cresceu, principalmente nos grandes centros, enquanto que nas pequenas comunidades e na zona  rural melhorou muito a assistência às gestantes. Isso ocorreu pela chegada das parteiras estrangeiras, principalmente as  italianas,  bastante experientes e pela atuação da geração de mulheres brasileiras caboclas, que já  havia se formado e se deslocava para o “sertão desconhecido”, que conheciam o ofício por tradição grupal e familiar. ( História da Vida Privada no Brasil (2), pág. 71) 

 

 

Chamadas por “vó” ou “madrinha”, eram frequentemente saudadas e louvadas pelos jovens que ajudaram nascer. Solidárias e atenciosas, eram identificadas em quase todos os bairros, além do  povoado, sempre prontas a atender às futuras “mamães” sem olhar a condição sócio-econômica da cada uma, e nada cobravam; quando muito, aceitavam pequenos presentes.

 

 

A parteira-símbolo de Porangaba foi Bernarda Maria da Conceição (Nhá Bernarda) –  a querida velhinha que sempre atendia a todos com muita consideração. Mulher forte, de espírito elevado, bondosa e carismática, era ainda conselheira dos casais. Visitava sempre as “comadres” e conhecia os afilhados pelos nomes. Faleceu já centenária e faz parte de história de nossa gente como modelo de vida e dedicação. Lembrada com saudades e respeito, para homenageá-la, apelamos para dois porangabenses ilustres, cujas mensagens mostram profunda gratidão.

 

 

Nhá Bernarda – Velha e analfabeta, que durante um largo período praticou a obstetrícia cabocla na região. Aparou grande parte dos meninos porangabenses da época, que às vezes resolviam vir ao mundo de madrugada e com chuva grossa. Eu fui um deles. Certamente, pela oportunidade da chegada, levei uns tapas na bunda à guisa de boas vindas. Por sua arte e sua dedicação, Deus deve tê-la junto Dele, em lugar privilegiado. Assim seja!  – ( Dr. Gentil de Oliveira )

 

 

Nhá Bernarda – Século 19 – Um símbolo. Profissão: parteira, ou melhor sacerdotisa .Pelas suas milagrosa mãos nasceram por quase 50 anos, todos, todos porangabenses, quer pobres, remediados ou ricos. Seus ouvidos ouviram os  nossos primeiros berros, que anunciavam a  chegada e que aqui já estávamos. Eu também! Não tenho palavras, não encontro adjetivação capaz de definir a grandeza daquela mulher santa. Santa, santa, mil vezes santa! ( Dr. Urbano de Miranda )

 

 

Parteiras de Porangaba:  O ideal seria não esquecer nenhum nome, mas é praticamente impossível o levantamentos pela falta de registros.  Eram, na grande maioria, mães de família, com grande sensibilidade e compreensão; muitas crianças vieram ao mundo pelas suas mãos, sem alardes e sem problemas. Alguns nomes: Nhá Lina (mãe do Bento Gabriel), Maria Gerônima, Nhá Edwiges, Madalena do Nazareno, Chica Isídia, Nhá Laudelina (mãe do Otávio Sapateiro), Nhá Rosária (Partes), Nhá Rita de Arruda, mulher do Porfírio de Arruda (Arruda); Nhandica (Monjolão), Bernarda Maria da Conceição (Nhá Bernarda), Maria de Arruda,  Guilhermina de Oliveira Vaz, Rosa Tuvica, Dona Júlia, Alexandrina Maria Delfina (Nunes), Eduvirges de Oliveira Campos (Rio Bonito), Nhá Ângela, Marica Diniz, Justina Vieira (Serrinha), Nhana Serafim (Serrinha), Nhá Barbina (Serrinha), Tirda, Ana de Oliveira Vaz (Cotinha – Mariano), Dita Cubas, Vitú, Tuca ( bairro dos Pedroso), Rosa do Ventura,  Libertina, etc.

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

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