O Peabiru - Foram aos antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos, desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente. (Fonte: “Caminho do Peabiru” em https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiru)
Não sei o motivo, mas nunca ouvi nada a respeito do caminho do “peabiru”, tanto no curso primário como no secundário – pelas escolas que eu passei. Seria um tema complexo demais, abstrato e de difícil entendimento para os estudantes primários?. A verdade é que mais tarde, muito tempo depois, ao procurar conhecer a história do Brasil para melhor entender a história local, que eu novamente deparei com o intrincado caminho e, então, percebi que existia um elo com o povoamento do bairro do Rio Feio. Resolvi investigar e a surpresa foi enorme.
O caminho do Peabiru era a trilha pré-colonial chamada de “caminho do Peru” ou “caminho de Pay Sumé, como diziam os índios. Era a grande estrada terrestre dos índios, que fazia a ligação com os Andes, cortando o solo do Paraguai, entrando no Brasil na altura do rio Piquiri e depois, atravessando os rios Ivaí e Tibaji, bifurcava-se na altura do Vale do Ribeira, na região de Apiaí. O tronco principal seguia até São Vicente, enquanto outras ramificações se dirigiam a Cananéia e Iguape. Era a incrível rota transcontinental que unia o Atlântico ao Pacífico e já existia antes da vinda dos conquistadores, do Brasil ser descoberto. Os jesuítas atribuíam à formação uma intervenção sobrenatural, com a conclusão de que surgiu por milagre com a “passagem do apóstolo São Tomé por aquelas partes”. O historiador Afonso E. Taunay definiu: “como quer que seja este caminho existia e muito batido, com largura de 8 palmos, estendendo-se por mais de 200 léguas…”. O caminho pré-cabralino foi de importância fundamental pelo traçado e, especialmente, pelos personagens que por ele transitavam antes e após o descobrimento de nosso país: nativos, aventureiros, viajantes, sacerdotes, soldados, fugitivos e outros. Tratava-se de uma estrada complexa, um ramo ou um feixe de caminhos.
Considerando que o território paulista foi chão de passagem até o século 17, com pouca fixação do elemento humano, e como não existiam senão “trilhas” para atingir outras paragens, deduz-se que foi pelos sub-ramais do Peabiru é que se chegou até às nascentes do rio Paranapanema, às fazendas dos padres da Companhia de Jesus, em Guareí e Botucatu, tendo, sempre, a serra botucatuense a balizar os rumos da penetração e da conquista. No mapa da América Meridional, elaborado por Jean Baptiste Bourguignon Anville, de 1748, já aparece a “Serra de Ibotucatu” como ponto de referência, embora na época existisse um vazio de gente no centro-oeste paulista. O ilustre porangabense Francisco Pássaro ao escrever suas reminiscências fez alusão a esse marco: “…ao descortinar daqueles inigualáveis horizontes onde de um lado se desdobrava a serra de Botucatu, de outro se confrangia o morro de Bofete, acolá o monte de Torre de Pedra…”. Posicionou, fiel e corretamente, Porangaba na área de influência. Mesmo, sem a intenção de avocar o caminho do Peabiru como fator importante para o povoamento do antigo bairro do Rio Feio, chegamos a conclusão de que, em conseqüência do traçado original e por ter se transformado num feixe de caminhos – os chamados caminhos alternativos – que nasciam na estrada principal, foi aberta a possibilidade dos aventureiros e viajantes optar pela passagem pelas imediações do Sertão do Rio Feio na direção de Samambaia (Bofete) para alcançar a Serra de Botucatu. Formava-se, então, parte da estrada principal que ligava Sorocaba a Botucatu.
“Hoje, com o extraordinário avanço tecnológico, já é possível até mensurar o caminho do Peabiru e dizer que era mais longo. O trajeto “comprido” do Atlântico ao Pacífico (ou vice-versa) tinha, mais ou menos, 4000 km. Anos atrás se calculava que era menor, beirando os 3000 km. Hoje, os pesquisadores afirmam que possuía 3.800 km até o litoral do Peru ou cerca de 4300 km até o litoral chileno. Como era uma rede com diversos caminhos, o seu comprimento total somava outros milhares de quilômetros. Pode-se dizer que o roteiro principal era aquele que numa linha sudeste-noroeste-sudeste, acompanhava o movimento aparente do Sol, nascente-poente-nascente. De cabo a rabo, 4000 km ! No Brasil começava ou terminava, em 3 pontos: litoral de Santa Catarina, litoral do Paraná e litoral de São Paulo. Baseando-se em escritos antigos e mapas, pode-se propor que a estrada de mar a mar, percorria o litoral do Brasil (S.Catarina, Paraná e S.Paulo), interior catarinense, interior paulista, interior paranaense, Mato Grosso do Sul, Paraguai, Bolívia, Argentina e litoral do Peru e do Chile. Ainda não foi possível descobrir o trajeto da totalidade do caminho. No entanto, pesquisando diversos autores, pode-se supor que o Peabiru possuía 3 ou 4 vias principais solares (leste-oeste ou vice-versa) no Brasil e nos demais países.” (Fonte: “Blog Caminhos da Trilha”).
Portanto, “ainda hoje, muitos consideram os resquícios do Peabiru como um caminho sagrado, próprio para peregrinações pelo interior do Brasil, a partir de vários pontos do litoral, principalmente Santa Catarina, Paraná e São Paulo. O Peabiru, cujo significado mais conhecido é Caminho de Grama Amassada, foi quase todo destruído pela paulatina ocupação humana, restando ainda poucos vestígios. O trânsito intenso através dessa trilha chegou a ser proibido, em 1553, por Tomé de Souza. Segundo, então, o Governador-Geral do Brasil, era preciso fechar o caminho milenar e punir quem por ali transitasse com a pena de morte, pois “a fácil comunicação entre a Vila de São Vicente com as colônias castelhanas causavam um grande prejuízo à Alfândega Brasileira pelo contrabando” de mercadorias. (Fonte: “Peabiru, o Caminho Milenar” em http://www.brasilazul.com.br/peabiru.asp).
Foto: “Caminho do Peabiru”, artigo “Itu de Tantas Grandezas”, Portal D Moto em http://portaldmoto.com.br/itu-de-tantas-grandezas
Júlio Manoel Domingues
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