ARTIGOS PUBLICADOS

26 de agosto de 2012 - O Cinema no “Pavilhão”

O alemão Henrique Harnich construiu a primeira sala de cinema em Porangaba, conhecida como  “pavilhão” – um amplo prédio em alvenaria, com salão, palco, ante-sala e moradia ao fundo, quando  passou a explorar o negocio por aqui. Foi em 1922. O imóvel, que não existe mais, ficava na  rua 4 de Junho, no local onde hoje está a casa de dona Ignez Miranda da Silva, viúva do sr. Antônio Silva. Naquela época os filmes eram mudos e os equipamentos funcionavam movidos a motor a gasolina que ainda  gerava a força  suficiente para iluminar as dependências, pois não existia  energia elétrica na cidade.

 

 

O cinema contava com o apoio da banda musical que desfilava pelas ruas da  cidade tocando marchas e dobrados, antes do espetáculo. Durante a exibição, os músicos eram responsáveis pela sonoplastia – intercalavam melodias tristes e alegres conforme as cenas dramáticas ou cômicas para o delírio dos assistentes. Somente mais tarde a música de banda foi substituída pela vitrola. Normalmente, o cinema funcionava às quintas-feiras, sábados e domingos, com sessões noturnas. Aconteciam também as sessões da tarde, nos domingos e feriados, os famosos matinês para as crianças. Curiosamente, os freqüentadores enfrentavam certo desconforto, pois se sentavam em bancos e cadeiras de madeira, rústicos e incômodos, daí muitos expectadores levarem suas próprias almofadas para o cinema.

 

 

O negócio era apaixonante, afirmavam muitos, mas não dava lucro, daí as sucessivas trocas de proprietários desde o primeiro cinema aqui instalado. Foi vendido e arrendado para diversas pessoas nos anos seguintes. Em 1924, o alemão  Henrique Harnich colocou o prédio a venda para “cinema ou depósito”, com motores a gasolina e um projetor “Pathé Frères”e o comprador foi Domingos Manoel de Miranda, que manteve o cinema por algum tempo. Em 1929, a sala já estava fechada, mas havia a expectativa de reabertura, pois empresários de fora mostravam interesse. Em outubro de 1930, A. Machado & Cia, empresários do Cine Teatro São Martinho de Tatuí, passaram a explorar o comercio.  O Jornal de Tatuí, na edição do dia 12/10/1930, noticiou:  Cinema em Porangaba -  “ Com enorme afluência de povo, abriu suas portas no dia 4 do corrente esta casa de diversões da empresa A. Machado & Cia. Foi uma inauguração esplêndida, precursora de duradouro êxito. Apresentaram-se na tela dois importantes filmes: Viagem ao Brasil e Carnaval do Rio de Janeiro. A aplaudida Orquestra Del Fiol Netto abrilhantou a inauguração”.  

 

 

No ano de 1933 já estava locado para Lazinho  Soares de Almeida e Crispim Francisco Paulino, sócios no negócio. Na época, os filmes vinham de Botucatu, por estrada de ferro, via Conchas e dali, a cavalo, até Porangaba. O cinegrafista era o carioca Valdemar Pereira Passos, mas um  lamentável acidente mudou o destino da sociedade conforme relato do poeta Onozor Pinto da Silva:  “Numa das sessões, o operador ao tentar apagar o fogo que subitamente pegou na fita (que era de celulóide, uma substância sólida, transparente e inflamável), e não conseguindo, assustou-se, deu o alarme e gritou por ajuda. O militar Fernandes, da Força Pública, que estava de serviço, subiu rapidamente até a cabina de projeção (que ficava na entrada do salão, numa parte elevada e fechada), e, na ânsia de apagar as chamas, ao ver uma lata com líquido e supondo que fosse água, arremessou o conteúdo sobre o fogo que se alastrava pelo projetor. Aconteceu o pior, era gasolina e, além de aumentar a combustão, lhe provocou graves queimaduras. O militar teve o seu estado de saúde agravado pela extensão das lesões e mesmo removido para tratamento, a Tatuí e Sorocaba, veio a falecer”. 

 

 

Houve consternação geral. Em decorrência do sinistro, com a perda dos equipamentos e, principalmente, o falecimento do militar, o “cinema” foi mais uma vez fechado. Ainda na década de 1930, houve outra tentativa de explorar o negócio por parte do comerciante Francisco Patrocínio São Pedro, em sociedade com Luiz Manoel Domingues ( Luiz     Cândido ), mas o empreendimento não foi para frente.

Em 1937 passou a ser explorado pelo comerciante Pompeo Reale, de Tatuí, que, depois de um ano, vendeu para Carmelo Catel, também daquela cidade. Este último reformou o “pavilhão”, rebocou as paredes e pintou, dando um novo visual ao prédio. Isso ocorreu em 1938 e, até então, os filmes exibidos eram mudos, mas legendados. Em 1940 o negócio passou a ser explorado pelo  sr. Alberto Stape, de Tatuí, que se tornaria, mais tarde, destacado empresário na área de cinemas. Já era sonorizado e no dia 15/08/1940 ( há 72 anos atrás ) foi inaugurado o cinema falado em Porangaba com o filme “Capitão Blood”.  O suporte era dado ainda por motor a gasolina, que gerava a energia para os equipamentos e à iluminação das instalações e até da rua. A cidade permanecia ainda às escuras, mas para facilitar a vinda  às sessões noturnas, o empresário estendeu a linha de iluminação pública até a praça principal;  manteve a casa por alguns anos e os cinegrafistas vinham de Tatuí.                                                                    

 

 

Mais ou menos em 1945/1946, o “cinema” foi mais uma vez desativado e seguiu-se um longo período em que o “pavilhão” foi utilizado para outras finalidades, culminando com a demolição. O ultimo proprietário foi o comerciante Francisco Patrocínio São Pedro.  Coincidências a parte, Porangaba também teve o seu Cinema Paradiso, onde além de queimar o filme, ocorreu tão lamentável acidente.

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

«  VOLTAR

O conteúdo dos links está em formato PDF. Se você não possui o Acrobat Reader,
clique aqui para fazer o download gratuito.