“As pessoas querem saber: Onde nasceu o circo ? Uns dizem que foi na Grécia, outros que foi no Egito. Muitos defendem que os números circenses já existiam nas Olimpíadas e, até mesmo, que nos anos 70 antes de Cristo, em Pompéia, já havia um enorme anfiteatro. Depois veio o Circo Máximo de Roma, que, destruído por incêndio, foi reconstruído mais tarde pelo Imperador Júlio César. Era o Coliseu, obra que marcou o poderio do Império Romano. Ali eram apresentadas coisa excêntricas: homens loiros conduzindo animais exóticos, engolidores de fogo, gladiadores, etc. Com o tempo, as apresentações passaram a ser feitas em feiras populares, portas de igrejas, onde eram mostradas habilidades incomuns, truques mágicos e malabarismo, nascendo a figura do palhaço com a baixa comédia. Para complicar ainda mais o assunto, os chineses defendiam que foi na China onde tudo começou. A verdade é que, com o passar do tempo, os espetáculos foram sendo enriquecidos com novos números que são conservados até hoje. O circo, como nós hoje conhecemos – com picadeiro, lonas, mastros, trapézios, desfiles de animais exóticos, etc., como espetáculo pago, data do último quarto do século XVIII. Portanto, no Brasil o circo já existia desde aquela época,quando ia de cidade em cidade, em lombo de burros para a apresentação dos espetáculos. Depois, incorporaram os ciganos expulsos da Península Ibérica, que vieram ao Brasil. Eram domadores, exímios cavaleiros. Na época, a Igreja combateu a presença dessa gente, culpando-os pelas algazarras e bebedeiras quando se exibiam artisticamente. Os grandes circos estrangeiros vieram para o Brasil de acordo com o ciclo econômico, já no século XIX e apresentavam espetáculos grandiosos.” (Fonte: “O Circo no Brasil”. Antonio Torres, Editora Funarte 1998).
O circo é um dos divertimentos populares mais antigos, mas hoje está praticamente no fim, embora ainda existam companhias circenses que lutam bravamente para sobreviver. Empobrecidas, sem nenhum apoio, insistem em turnês através do imenso território brasileiro, colhendo, cada vez mais insucessos pela falta de público. Torna-se uma aventura trabalhosa e onerosa. O circo jamais morrerá, mas perde, cada vez mais, o caráter popular e será mais seletivo, direcionado aos espetáculos fantásticos das redes televisivas e de alta tecnologia. Poderá ser visto da própria casa, mas não será tão emocionante e participativo como antes. Está perdendo a graça. No passado, traduzia a alegria que chegava aos povoados e pequenas cidades, quando o povo, carente de tudo, e especialmente de recreação, recebia a “companhia” com euforia e expectativa. A animação era geral, contagiante. Ricos, pobres, mulheres e crianças, gente da roça e da cidade, disputavam as gerais e cadeiras. Além das apresentações cômicas, muitas pessoas viam, nos enredos das peças e dramas encenados, um pouco dos seus sonhos e fantasias. Os homens, criados no recato e na rigidez de costumes do interior, tinham a grande oportunidade de se arrumar para apreciar as “belas artistas” que ilusoriamente enxergavam – mulheres produzidas, pintadas, arrumadas, cheirosas e com respeitáveis decotes. Era um verdadeiro deslumbramento, uma excitação tentadora ver as pernas da moça que cantava e dançava, o busto da trapezista e o corpo modulado da mulher que andava no arame. A mulherada ficava furiosa quando os maridos se babavam com os rebolados das bailarinas, que atiravam beijos paras os assistentes. Alguns pensavam até em seguir a companhia, abandonar tudo pelo amor repentino e quase impossível. Um caso famoso aconteceu em Porangaba e culminou com o casamento do professor Francisco Pássaro com dona Amélia Verreschi, a filha do dono do circo. Esse ímpeto atingia sempre os mais jovens, os apaixonados e voluntariosos e, também, muitos “coroas”, que cansados da rotina do lugar, viam no circo a grande oportunidade de buscar novas aventuras e centros maiores. Muita gente correu atrás do circo e bateu a cara!
E os palhaços, os acrobatas!, o homem que engole espada!, os trapezistas! A saída do palhaço às ruas, acompanhado da banda de música e da criançada, para anunciar o espetáculo, tornou-se um fato inesquecível; que vem sempre à nossa mente. O barulho era infernal e a meninada respondia em coro as baboseiras que o artista gritava. Como ponto culminante, no encerramento da passeata, havia a escolha de alguns garotos acompanhantes para ganhar “entradas” de acordo com o entusiasmo que mostravam no cortejo. E as tentativas para entrar sem pagar, por “baixo do pano”, algumas frustradas, outras com sucesso, mostrando esperteza - alvoroçavam os meninos. Tudo era festa e o ato não se revestia de maldade, pois muitos não tinham os “réis” suficientes para a “entrada”.
“De vez em quando aparecia por lá um circo que fazia forte concorrência, até mesmo com a Igreja, pois trazia algumas novidades em música, mágicos, trapezistas, palhaços … e o povo gostava. Não havia dificuldade para freqüentá-lo, pois era costume a direção do circo reunir a molecada para fazer coro com o palhaço anunciando as atrações, e essa adesão dava direito à entrada. “O raio, o sol, suspenda o pano, é o bravo palhaço republicano; o raio, o sol, suspenda a lua, é o bravo palhaço que sai na rua. Hoje tem, hoje tem, hoje tem espetáculo!, e o palhaço o que é? É ladrão de mulher”. Se não fosse no acompanhamento do palhaço, não seria difícil burlar a vigilância dos soldados e passar para dentro por baixo do pano.” (Fonte: “Porangaba e Meus Paceiros”. Roque Miranda, Editora Artífice 2001, página 138).
Doces, salgadinhos, pipoca, amendoim torrado, algodão doce, luz de lampião, banda de música, e a cidade ficava acordada até mais tarde. O circo trazia novas ilusões e muita alegria. O comentário era sempre o mesmo; as apresentações tinham sido espetaculares, melhores que as anteriores, nunca tinha acontecido nada igual por aqui. Quando o circo partia, ficavam as saudades, as lembranças e os comentários duradouros. Não se falava noutra coisa durante um bom tempo. Todos guardavam os nomes dos artistas e estes chegavam a manter relações de amizade com os moradores, pois sendo pessoas da cidade grande, bons papos, conheciam de tudo um pouco e estavam a par do que ocorria no mundo lá de fora. Reuniam-se para contar as novidades da política, da moda, do comércio e, com isso, quebravam a monotonia da cidadezinha. Cômicos e palhaços: Toni Fedegoso, Piranha, Borboleta, Guinardo, Passafome. Empresários: Circo do Belmiro (1920); José Epaminondas (1930); Sabatino Sanchoni – José Cundari – Natálio Túdolo – jogos e diversões; Lázaro Baptista (Circo Paulistano); Maurício Diniz Vaz (circo de cavalinhos); Circos: Parque de Diversões Arealva, Empresa Irmãos Robatini, Circo Glória (1930), Troupe “Os Vindondos” – números de ventriloquia, faquirismo, cançonetas, etc, destacando-se o boneco Joãozinho (1930), Circo Paulistano (1931), Circo Santa Helena, Circo do Piranha.
O Jornal de Tatuí, através do correspondente em Porangaba, noticiava na edição do dia 12/10/1930, “ A estréia do Circo Glória, composto de modesto elenco, porém seus artistas muito se esforçaram para agradar o público. Da companhia, destacava-se o sr. José Epaminondas, diretor da mesma, o qual arrancou aplausos dos assistentes, encarnado no endiabrado Toni Fedegoso.”
Os circos sempre foram montados em locais improvisados, já que não existia na cidade um lugar apropriado. No início, eram instalados no próprio largo da matriz e, depois atrás da igreja. Lembramos também de terrenos pertencentes à prefeitura, onde atuavam as “companhias”: onde hoje está o grupo escolar “Joaquim Francisco de Miranda”, na rua João Rosa de Oliveira; onde está a unidade central telefônica, na esquina da rua Bráz Gica da Paz; onde foi construído o prédio da Santa Casa de Misericórdia na rua Professor Antônio Freire de Souza. Eram vistos também em terrenos particulares, como o da dona Lindora Vieira de Camargo, viúva de José Colaço (na rua João Rosa de Oliveira, ao lado da casa de dona Helena Fogaça ); ao lado da “mangueira” do Nhô Jango Mendes, etc.
Foto: “O Circo do Piranha”, em http://www.radiocidadania.com.br/blog/2015/12/28/circo-do-piranha/
Júlio Manoel Domingues
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