O fluxo de pessoas, que passavam por aqui, aumentou muito na medida em que o povoado foi se formando. Eram viajantes, forasteiros, andantes, aventureiros,etc., simplesmente passando ou com a intenção de se fixar nas imediações da capela. Alguns chegaram até a receber terrenos em doação para construir as suas moradias. A população começou, então, a crescer e surgiram os primeiros problemas de relacionamento. Os moradores e os que vinham das redondezas encontravam-se nas “vendas”, onde procuravam suprimentos e mantinham prosas para quebrar o isolamento em que viviam. Costumeiramente, excediam na bebida alcoólica e aconteciam desavenças que colocavam em risco a integridade física dos mesmos. Havia, na verdade, muito atraso e ignorância e por qualquer motivo as pessoas queriam mostrar valentia, que não toleravam desaforos. Os problemas cresciam e as autoridades passaram a se preocupar com a segurança pública e das próprias famílias. Pleitearam, então, a criação do posto policial para manter a ordem e os bons costumes.
O primeiro posto policial (com a cadeia pública) foi instalado em 1880 na “rua de Cima”, antiga “rua da Igreja”, atual rua professor Antônio Freire de Souza, portanto há mais de cento e vinte e cinco anos. Foi criado, o distrito policial de Subdelegacia de Polícia, em 14/04/1880, pelo juiz de direito Ventura José de Freitas Albuquerque, chefe de polícia da Província de São Paulo. O registro feito pelo padre José Gorga no Livro do Tombo indica que ficava num prédio alugado, próximo ao Largo de São Roque (atual praça Francisco Pássaro). O imóvel pertencia ao comerciante João Affonso Pereira e, provavelmente, localizava-se ao lado da casa onde viveu por muitos anos a querida e folclórica figura da Tirda, a avó do Marinho Sapateiro.
Com a criação do distrito policial, foram nomeados os subdelegados e vieram, também, os primeiros policiais. O ambiente passou a ser calmo, mas, nos fins de semana e dias santificados, todos vinham à “praça” (como era chamado o povoado) e, nos encontros sempre regados com bebidas, cantorias, jogos, e, às vezes com a participação de “mulheres”, os ânimos se exaltavam e aconteciam brigas, desordens e até assassinatos. Com o policiamento ostensivo, as coisas mudaram, mas sempre apareciam desordeiros e embriagados. A polícia trabalhava bastante nesses dias.
No ano de 1902, segundo nota no jornal Cidade de Tatuí, o português Manoel da Silva Cardoso, requeria o pagamento dos aluguéis atrasados do prédio da cadeia pública e não temos dados suficientes para saber se tratava do mesmo imóvel, se era o procurador ou o proprietário. Supõe-se que fosse uma casa próxima da Igreja Matriz, na esquina com a atual rua João Machado da Silva.
A partir de 1910, mais ou menos, a delegacia e a cadeia já funcionavam noutra casa (existe até hoje), na mesma rua, entre as residências do sr. Acácio Domingues e do sr. Lázaro Nogueira da Silva (Maestro Pingo). O prédio ( na foto acima ) era alugado e pertencia ao comerciante Leopoldo Hermelino Soares. Como curiosidade, além das duas celas e da sala do delegado, no fundo do prédio existiam acomodações para os soldados do destacamento. Em 1940, o prédio já pertencia ao sr. Luiz Angelini (Gijo).
Lembro-me, quando criança, em 1943, mais ou menos, com saudades, do soldado Juvenal, um cearense educado e de fino trato, pois eu morava ao lado da cadeia e sempre encontrava motivo para visitá-lo. Era uma espécie de padrinho que intimamente escolhi, sendo ali tratado com muito agrado pelo respeitável militar que chegava a brincar com as crianças e nos ensinava marchar.
Como curiosidade, na frente da “cadeia” existia o sino que era badalado, ao anoitecer, para avisar o horário de fechamento das casas comerciais. No início era tocado pelos próprios policiais e, tempo depois, o sineiro passou a ser um funcionário municipal. Lembramos do querido Paulino José da Rosa (Paulo Telles) que martelava nos dias úteis, regularmente, às 8,00 horas da noite, sinalizando para o fechamento das lojas e armazéns.
A propósito de Paulo Telles, era pessoa boníssima, músico da banda e sempre muito atencioso para com as crianças. Costumava brincar, dizendo que “tinha dinheiro na garganta” e, para provar, ao bater os dedos no pescoço, imitava o tilintar das moedas que escondia na mão, assombrando a molecada que sempre o rodeavam. Quantas saudades…!
Em 1950, mais ou menos, a cadeia pública e a delegacia já funcionavam na rua 4 de Junho ( antiga rua do Comércio), no casarão que pertenceu ao sr. João Paes da Silva, (ainda existe; é uma casa comercial), ao lado da residência do sr. Júlio do Amaral Paes. Na primeira gestão do prefeito municipal Mário Antônio Nogueira foi instalada no prédio próprio, amplo e moderno, construído pelo Governo Estadual. Está na mesma rua, na esquina, um pouco adiante da antiga cadeia. Hoje, o quartel do destacamento policial já não funciona mais no prédio da delegacia de polícia; fica separado, na Vila São Luiz.
Porangaba, antes de se tornar Distrito de Paz, foi Distrito Policial. A Força Pública, no início, e depois a Polícia Militar do Estado de São Paulo marcam presença por aqui há mais de 125 anos, sempre merecendo o respeito da comunidade pelo importante papel que tiveram e ainda desempenham na manutenção da ordem e da segurança pública.
Júlio Manoel Domingues
O conteúdo dos links está em formato PDF. Se você não possui o Acrobat Reader,
clique aqui para fazer o download gratuito.