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1 de novembro de 2018 - Os Capacetes de Aço

Cem Capacetes de Aço – “ A comissão angariadora de capacetes de aço, organizada na semana passada pelo nosso redator, Sr. Walter S. Mota, encontrou a melhor boa vontade dos tatuianos. Já foi enviada ao Departamento de Capacetes de Aço, em São Paulo, na sexta-feira passada, a importância de 1.500 $, correspondente a cem capacetes subscritos. Soubemos também que no dia 17 último, o Sr. José Picchi organizou em Porangaba uma ótima comissão angariadora, composta pelos Srs. José Martins ( presidente ), Francisco São Pedro ( tesoureiro ), Antônio Nunes da Silva, Giocondo Rossi, Dassás Vieira de Camargo e Domingos Miranda ( membros ). Esta Comissão já iniciou o trabalho com muito boa vontade e entusiasmo. (Fonte: Jornal de Tatuhy, edição de 21 de agosto de 1932. Arquivo de João Padilha, doado ao jornal Integração de de Tatuí, SP.”

 

Ao ler essa curiosa notícia, envolvendo pessoas de Porangaba, inclusive o meu avô materno Antônio Nunes da Silva ( que faleceu em 1938 quando eu tinha somente 3 anos de idade e do qual pouco de sua vida eu conhecia ), entendi prontamente que o texto referia-se á Revolução Constitucionalista de 1932, na campanha encabeçada pela Associação Comercial do Estado de São Paulo, no sentido de angariar recursos para a compra de capacetes de aço para as tropas paulistas que enfrentavam as forças getulistas. Procurei, então, entender melhor a notícia, pois nunca tinha ouvido falar do Departamento de Capacetes de Aço na revolução paulista e procurei saber o que diz a a história sobre o tema em questão; a) Os capacetes de aço passaram a ser utilizados pelos principais exércitos do mundo na 1ª. Guerra Mundial (1914-1919); b) foram criados modelos diversos, desde os estampados a frio até os usinados, desenvolvidos para proteger os soldados de estilhaços, projéteis de pequenos calibres e, principalmente os golpes na cabeça; c) as estatísticas mostravam ainda que esses ferimentos na cabeça eram mais comuns na guerra de trincheiras, principalmente, daí a preocupação de ampliar a proteção individual; no Brasil, esses capacetes somente apareceram em 1932, na Revolução Constitucionalista; d) foram criados diversos departamentos para enfrentar as tropas getulistas e um deles era justamente para a confecção de capacetes de aço, equipamento necessário aos combatentes, fossem eles voluntários ou da Força Pública; e) foram apresentados 2 (dois) modelos: um francês, Adrian ( modelo 1915) e um inglês MK1 ( modelo 1916) , oriundos de coleção particular; f) foram examinados e aprovados para serem produzidos em série, aos milhares.

 

A Revolução Constitucionalista de 1932 mostrava o inconformismo de São Paulo em relação ao governo de Getúlio Vargas. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. Consta que foram produzidos 70.000 unidades e a maior parte foi distribuída às tropas paulistas, mas como a Revolução durou somente 3 meses e os “ constitucionalistas” foram derrotados, o Governo Federal se apossou do estoque e das linhas de montagem.

 

A nota identifica o alto espirito cívico de nossos conterrâneos, pessoas simples e honestas, voltadas ao trabalho, preocupadas com a normalidade democrática do País, participando ativamente de movimentos reivindicatórios importantes para a consolidação da história paulista. Queriam eleições e uma nova Constituição. Seria muito mais cômodo ignorar, mas resolveram participar mostrando o elevado espírito patriótico. A campanha identificada na pequenina Porangaba, envolvendo cidadãos importantes da comunidade, nos enche de orgulho e satisfação.

 

Foto: “French infantry M15 Adrian Helmet”, Public Domain at https://en.wikipedia.org/wiki/Adrian_helmet#/media/File:Casque_de_Marcel_H%C3%A9brard.jpg

Apoio Edição de Texto: João Lucas Fadel.

 

 

Júlio Manoel Domingues.

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