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3 de novembro de 2016 - Os Cemitérios de Porangaba

Em “Os Parceiros do Rio Bonito “, pag. 76, o sociólogo Antônio Candido ao comentar as relações de sociabilidade e de solidariedade que existiam entre os caboclos da região do Rio Bonito ( Bofete) e adjacências, registrou: “Quando morria alguém e queriam dar-lhe sepultura cristã, precisavam carregar o cadáver até Tatuí, em três dias de caminhada a pé, pelo mato. Como havia muita “maleite”, por vezes adoecia e vinha a morrer algum dos carregadores ou acompanhantes. Diante disto, obteve-se licença para fazer cemitério junto à Capela ( de Samambaia) e a vida ficou mais cômoda”. O mesmo se aplicou ao bairro do Rio Feio, daí a criação do primeiro cemitério anexo à Capela de Santo Antonio do Rio Feio: “A distancia desta cidade (Tatuhy), com estradas más, fez preciso que se fundasse ali um primeiro cemitério por provisão de 24 de março de 1874, que se acha registrada no Livro 2 do Tombo, fls. 7”  (Fonte: “Almanach Tatuhyense”,1899).

 

A provisão da bênção do primeiro cemitério do bairro do Rio Feio, Distrito de Tatuí, foi autorizada por Dom Lino, bispo de São Paulo, atendendo representação do padre Demétrio Leopoldo Machado, dentro do ritual romano e que os óbitos fossem registrados no Livro do Tombo da Paróquia da Matriz de Tatuí. O espaço ocupado do primeiro cemitério ficava na atual Praça Francisco Pássaro. O povoado crescia e em 1883, já decorrido quase 9 anos, o espaço estava pequeno, daí a desativação e a criação do segundo cemitério.

 

Foi criado por provisão de 18/01/1883 e bento em fevereiro (do mesmo ano) pelo padre Francisco de Paula Vocca, coadjutor da Paróquia de Tatuí. A descrição do “campo santo” no Livro do Tombo: “O cemitério é situado em lugar elevado a 470 metros da porta da Matriz, e em frente à mesma. Tem uma área de 5625 metros quadrados, todo fechado com cerca de pau a pique; nele se entra por um portão, sendo as folhas de madeira. Dentro dele existem alguns túmulos e várias cruzes. O cemitério é municipal, sendo seu zelador pago pela Câmara de Tatuí”.

 

Hoje, passado mais de 130 nos da fundação do 2º.cemitério, restam pouquíssimos jazigos da época inaugural (a rigor, localizamos somente um); a maioria se deteriorou ou foram destruídos pelo tempo por falta de conservação e desinteresse, principalmente, dos familiares e do próprio Poder Público. De acordo com levantamento recente, feito pela Prefeitura Municipal, ainda foi possível identificar a sepultura nº 574, como a mais antiga ali existente, em cuja lápide de mármore, simples, consta: “Benedito – filho de Antônio Alves da Cunha e de Ermelinda Alves da Cunha falecido a 05 de outubro de 1884, com 18 meses de idade”.

 

Outro fato singular é que somente, há pouco tempo atrás, ocorreu o primeiro sepultamento de um padre em Porangaba, ao contrário de cidades vizinhas como Conchas e Pereiras que, inclusive, chegaram a sepultar na própria Igreja . Foi enterrado no jazigo da família em 11 de abril/2004, o saudoso Frei Timóteo Maria de Porangaba, capuchinho, porangabense emérito, filho ilustre.

 

Tudo leva a crer que o 2º cemitério somente foi utilizado a partir de janeiro de 1884, em decorrência dos assentamentos encontrados no livro da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Tatuí (1884), aberto para registrar óbitos que ocorressem no Rio Feio, Passa Três e Quadra, sendo, então, feito o primeiro sepultamento no dia 02/01,1884, do inocente Antônio, filho de Francisco Antônio Duarte e de Rosalina Maria com um dia de vida, cujo óbito se deu por febre.

 

Como curiosidade, constatamos também que não ocorreu nenhum sepultamento nas dependências de nossas igrejas, tanto na Capela de São Roque (já demolida) como na Igreja Matriz de Porangaba. Até a criação do primeiro cemitério, os mortos eram transportados e enterrados no cemitério de Tatuí. Eram conduzidos envoltos em rede ou lençol, em viagens demoradas pelas perigosas trilhas e pelos mal cuidados caminhos. O transporte chegava a durar dois dias e as condições de salubridade eram precaríssimas. Existem muitas histórias.

 

Foto: “Cemitério Municipal de Porangaba”, arquivo pessoal.

 

 

Júlio Manoel Domingues

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