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23 de dezembro de 2015 - Os Leiloeiros de Porangaba

O leilão de prendas nas festas religiosas é um costume tradicional que, sobrepondo ao tempo, conseguiu chegar até os dias atuais  principalmente  nas pequenas comunidades do interior. Na verdade, muita coisa mudou, mas ainda é o ato profano mais concorrido da festa. O evento, além de brincadeiras e desafios, atrai  muitas pessoas que participam da arrematação de coisas doadas à paróquia para tal fim.  É o jeito mais rápido para a  arrecadação de fundos  necessários à manutenção da igreja, mas, o sucesso do leilão depende muito do leiloeiro, que,  geralmente,  é um comunicador que alegra e motiva os participantes. Com criatividade, executa as funções com graça e faz as chamadas necessárias para estimular a disputa e provocar as pessoas para que sejam arrojadas nos lances. Cria suspense, ouve atentamente as ofertas e, finalmente, ao optar pela mais vantajosa, concluí e grita o bordão “dou-lhe uma…,  dou-lhe duas…, dou-lhe três…”, ao final da disputa de cada  prenda. É a grande atração.

 

Os primeiros leiloeiros da  Paróquia de Porangaba foram: Antônio Francisco Perdiz, Francisco São Pedro Martins, Leôncio Manoel de Oliveira,  João Leite de Paula e João Pescatori. ( Fonte: Livro do Tombo, Igreja Matriz de Porangaba ).

 

Tivemos famosos  leiloeiros por aqui, que deixaram saudades. Antes, até meados do século passado, eles contavam sempre com o suporte da banda de música.  Ouvindo alguns moradores mais velhos, todos, sem exceção, contaram  que  o leiloeiro mais destacado que houve por aqui foi  – o JOÃO TELLES.   Vejam bem, é lembrado e elogiado até hoje por duas ou mais gerações de porangabenses. Na  verdade, era um artista nato e engraçado. Homem simples, desprovido de orgulho, prestativo, adorava brincar com as crianças  e, onde houvesse festa, lá estava ele. Fazia teatro, adorava serestas, carnaval (onde participava da banda maluca), mas também era humanitário, caridoso, diligente, preocupado com os pobres. Desprovido de orgulho, participava de movimentos assistências e era a pessoa certa para cuidar de doentes, indigentes e forasteiros que por aqui passavam. Destacou-se como enfermeiro, quando houve  um surto de varíola na cidade, há muitos anos atrás  e, como voluntário,  cuidou dos doentes no isolamento. Ali, chegou a contrair a doença. Foi uma figura extraordinária e existem muitas histórias a seu respeito, mas era no tablado, com o suporte da “banda”, no leilão, que ele se  transformava, mostrando sua criatividade e comicidade. De tradicional família local, era filho do tenente Antônio Paulino Telles. “Ao deixar Porangaba em 1948, não mais ouvi falar do João Telles e, muito tempo depois, soube que havia falecido. Tenho vaga lembrança de sua pessoa. Um senhor de cabelos brancos, de uma simpatia irradiante e muito  popular. É o que me lembro!”. Resolvi, então, condensar alguns pequenos depoimentos sobre tão importante personagem da história de nossa cidade e lhe prestar uma singela homenagem “póstuma”, para que ele sempre seja lembrado pelo seu elevado espírito de solidariedade,  (um comediante nato, um artista diferente) e, principalmente, pela alegria que proporcionou às crianças de Porangaba. Em nome de todos, os  nossos  agradecimentos.

 

“ Era efusivamente cumprimentado por ter sido escolhido o leiloeiro. Era sempre assim. O homem era um verdadeiro show com uma leitoa assada na bandeja em cima do tablado. Fazia o povo rir, chorar e era um grande sucessor do pároco para lembrar à multidão as forças do festejado. “Quanto me dão, dou-lhe uma…”  E aí passava longos minutos fazendo o povo rir, era um cômico nato. A banda tinha suas músicas certas e, no leilão, o seu João era o dono da batuta”. (“Porangaba e Meus Parceiros”, Roque Miranda).

 

“O grande artista, o comunicador, o palhaço, o leiloeiro, o benevolente; adorado pela criançada. No seu linguajar pitoresco, fazendo mímicas ou cantarolando: – “é lé com lê e cré com crê, é lê com lé e crê com cré”.  (“Eu e os tempos antigos de Porangaba”, Urbano Miranda).

 

“Na epidemia de “bexiga” em 1917/19, que precisou até de isolamento, muitos morreram e outros ficaram marcados pela doença, com os rostos cheios de “furinhos”, dentre eles o folclórico João Telles, que, num ato de desapego, apresentou-se voluntariamente para trabalhar como enfermeiro e, ao cuidar dos doentes, contraiu a doença” ( Antonio Manoel de Miranda).

Foto: “Cowboy-1895″ by j4p4n em https://openclipart.org/detail/167481/cowboy-1895

 

 

Júlio Manoel Domingues

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