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22 de novembro de 2015 - Os Poços de Água de Porangaba

A falta de água potável foi a grande preocupação dos moradores da Bella Vista, pois a água do rio, que passa nas imediações, é salobra e imprópria para beber. Servia, antigamente, para lavar roupa e matar a sede dos animais. O seu gosto, até hoje, é desagradável. A solução encontrada foi a abertura de poços, já que as fontes superficiais e vertentes sempre foram insuficientes. Associe-se a tudo isso, além da escassez, a má qualidade da água aqui consumida. De início, os poços eram simples escavações manuais de onde a água era retirada por meio de baldes ou similares. A população se serviu de poços públicos e particulares por muitas e muitas décadas, até a chegada da água encanada, de excelente qualidade, que vem do rio Bonito. O dr. Laurindo Minhoto em 1908 escreveu em seu jornal: “Socorro público – Poços em Bella Vista” – “Há quase quatro anos, tantas e tão justas foram as reclamações que daqui foi para ali a célebre e memorável comissão de água estudar o assunto. Aquele povo, batendo-se por água e sofrendo os horrores da sede, exaspera e grita. Entretanto, até hoje, ninguém cuidou de dar água à Bella Vista, e o dinheiro, que lhe era destinado, viajou… A falta de apoio dos políticos de Tatuí para solucionar o problema ficava evidente e a melhoria somente aconteceu após a emancipação política. Vejamos os principais poços que existiram no passado.

 

O Poço “Reiúno”

 

Chamado “reiúno” pelo povo, foi mandado abrir pela Câmara de Tatuí em 1907. O acontecimento foi muito comentado, polêmico, pois existiam dúvidas quanto à qualidade da água e que chegou, mesmo, a ser considerada imprópria para beber. Foi analisada por laboratório da Capital que atestou sua qualidade regular, não potável, mas prevaleceu a vontade dos políticos tatuienses, sendo aberto o poço para a população. Somente foi desativado e soterrado, quando chegou a água encanada do rio Bonito. O poço tinha 3m de diâmetro e 5m de profundidade, com uma cobertura de madeira, em forma de pirâmide e uma bombeador de ferro em sua base. O bombeamento era feito através de uma alavanca que conduzia a água para a torneira. Era revestido de tijolos e a maior parte da população se serviu do poço público por mais de cinqüenta anos. Para efeito de localização, ficava num terreno da rua Segismunda Machado, ao lado da residência do dentista dr. Gelson Bonomo.

 

Poço da Água Boa

 

Era a melhor água potável daqui. Ficava na chácara do João Pereira (que depois foi do espanhol Ciro Alonso), e como descreveu o poeta e pesquisador porangabense Onozor Pinto da Silva: “… havia um outro, com 1,5 m de diâmetro e 2,5 m de profundidade, chamado de “poço da água boa”, localizado na chácara do Afonso Pereira. Nesse local, todos os dias lá estavam as lavadeiras de roupas que também se serviam da água do poço. Esse, pelo uso exagerado, chegava a ficar vazio (seco), mas, noutro dia, como que por milagre, estava cheio de novo. Era o poço da água da vida do nosso povo; quem não bebeu aquela água anil, da cor do céu…! ” Documentos antigos comprovam que as pessoas mais ricas costumavam comprar água potável. A medida era a lata de 18 litros, transportada pelas carregadeiras sobre a cabeça, apoiada numa rodilha. Custava um tostão (100 réis) cada lata, isso lá pelos idos de 1908…!

 

Poço do Boava

 

Desativado, ainda podia ser visto até, mais ou menos, 1994, quando foi então soterrado definitivamente. Dentre todos, foi o que mais durou. A cidade cresceu, o poço ficou isolado e esquecido já na área urbana, nos fundos de um terreno, na parte final da atual rua professora Geni Coimbra Domingues, perto do ribeirão São Martinho. Ficava no lado esquerdo do córrego, no sentido descendente, a mais ou menos 300m da confluência com o rio Feio, na área que hoje pertence ao Espólio do coronel Joaquim Miranda da Silva. Sempre foi conhecido como “Poço do Boava”, o nome, provável, de um dos primeiros donos do local. O vocábulo boava deriva de emboaba, que significa : “o nome que os índios davam aos europeus que protegiam as pernas com largas botas ou perneiras e que depois passou a ser, simplesmente, a alcunha comum de qualquer cidadão português”. Recentemente, encontramos um documento que indica, claramente, como antigo proprietário das terras o português João Boava, que as vendeu a outro patrício, o sr. Manoel Ignácio São Pedro.

 

Pocinho

 

Outro poço público muito procurado, localizava-se na última quadra da rua João do Amaral Camargo, distante, mais ou menos, 80m do córrego. Ficava no meio do caminho, entre os terrenos que hoje pertencem à Família de Rubens Juliani e a dona Carmem Sinti Barreto. Na verdade, ali existiram dois poços, quase no mesmo lugar, sendo o primeiro desativado por motivo bastante curioso. Na década de 30 do século passado, ocorreu um crime violento na cidade, um latrocínio, e o cadáver da vítima foi jogado dentro do “pocinho”. Descoberto o corpo, a repulsa foi geral e o poço foi soterrado. Passado algum tempo, foi aberto então o segundo e que chegou a ser utilizado muitos anos.

 

Tivemos outros locais, bastante procurados, onde as pessoas iam buscar água para beber; os poços: da Rosa Preta (na atual chácara da Vera Miranda), do João Diniz, da Chica Leme, do Matadouro Municipal, da chácara do Horácio Cândido, da chácara do Inácio Nunes, etc.

 

Foto: “Water Drop” by J.Frog em https://www.flickr.com/photos/jfrogg/5810936597

 

 

Júlio Manoel Domingues

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