Em 1950 eu conheci o padre Antônio Dragone em Tatuí; era o coadjutor do monsenhor Sivestre Murari, o pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, pois, ambos, almoçavam diariamente na Pensão Nova, onde eu me hospedava. A amizade surgiu naturalmente. O horário do almoço, seguido com rigor pelos padres, coincidia com o meu, já que eu estudava no período da tarde no Instituto Barão de Suruí. Sentávamos sempre à mesma mesa e as conversas eram inevitáveis. Eu era chamado carinhosamente por Julinho e confesso que sentia orgulho por privar da amizade dos padres. Conversávamos os assuntos mais variados, de política a futebol, os noticiários do dia e, pela cultura e atenção dos mesmos, sentia-me a vontade para fazer perguntas sobre os temas mais variados. Eram conversas agradáveis e elucidativas. Com a orientação dos mesmos, fui até convidado para fazer uma palestra sobre “vocações sacerdotais”, na Igreja Matriz de Tatuí, fato que me marcou profundamente. A convivência com o padre Dragone sempre foi maior, pois vim encontrá-lo em Porangaba, onde conversávamos sempre, na casa de dona Marica Leite, onde ele almoçava. Cheguei até a acompanhá-lo, nas férias escolares, em algumas viagens de trabalho, principalmente, para São Manuel. Foi uma pessoa grandiosa pela humildade e espírito cristão. Contava-me passagens de sua infância na Itália, dos horrores da guerra e, sobretudo, das saudades que sentia do torrão natal e, especialmente, da família. Dizia que cumpria uma missão, com todos os percalços e triunfos, alegrias e tristezas, e como cumpriu. Está, certamente, num lugar especial.
Nasceu em 30/11/1917 em Vicoforte, diocese de Mondovi, Piemonte, Itália. Seus pais: Giuseppe Dragone e Ana Barnucero. Fez seus estudos eclesiásticos no Seminário Mondovi Piazza, onde, em 24/04/1943 foi ordenado pelo bispo Sebastiano Briacca. Fez parte do grupo de 5 ( cinco ) sacerdotes de Mondovi que vieram para o Brasil para trabalhar na Diocese de Sorocaba. Primeiro, foi coadjutor do Padre Francisco Lyrio de Almeida na paróquia de Porto Feliz (1949) e, depois, transferido para Tatuí como vigário cooperador do padre Silvestre Murari (1950). Na época, passou a atender também a paróquia de Cesário Lange, substituindo o padre Jorge Mouzizzano, onde se tornou pároco em 1952. Passou a acumular a paróquia de Porangaba. Extremamente modesto, dinâmico e trabalhador, em Cesário Lange se empenhou na construção da nova matriz, chegando a trabalhar com suas próprias mãos para erguer o prédio. Desenvolveu um trabalho profícuo junto à comunidade católica, mas alguns fatos desagradáveis, ligados à política local, anteciparam a sua saída. Foi transferido em definitivo para a paróquia de Porangaba em 1961, onde já era pároco desde 1956. Conhecido pela simplicidade e seu elevado espírito cristão, como já vinha desenvolvendo extraordinário trabalho na Paróquia de Santo Antônio foi muito bem recebido. Já tinha conseguido trazer de volta à Igreja a população católica que, antes, havia se dispersado. Desenvolveu um trabalho intenso junto aos sitiantes, nas capelas e fez grandes reformas na igreja matriz. Construiu, (chegou a trabalhar como pedreiro) junto com a Congregação Mariana, o Salão Paroquial, que hoje leva o seu nome, para eventos e festividades. Colaborou muito com a municipalidade local e, voltado aos problemas sociais da comunidade, batalhou para a criação da Santa Casa de Misericórdia de Porangaba em 1957, sendo escolhido por unanimidade como o primeiro presidente da instituição. Foi o vigário na época em que o município conseguiu a infra-estrutura básica para o seu desenvolvimento, os melhoramentos públicos reclamados, como a água encanada, prédios para o posto de saúde, casa da agricultura, cadeia pública, ginásio estadual, etc., dando sempre o seu apoio e participando ativamente. Em 25/12/1962 tornou-se o primeiro pároco da nova paróquia de Guapiara, onde ficou por 27 anos, até 1990. Aposentado, retornou à Itália em 1993, como hospede da Casa del Clero al Santuário di Vicoforte, onde faleceu em 24/05/1993, com 75 anos de idade. Sepultado em S. Grato de Vicoforte. Deixou uma profunda impressão junto aos fiéis das paróquias por onde passou pela sua humildade e discrição. Em 1972, a Câmara Municipal de Cesário Lange conferiu-lhe o título de Cidadão Honorário, numa reparação justa, um desagravo ainda que tardio pelos lamentáveis acontecimentos que o atingiram no passado.
Foto: “Padre Antonio Dragone”, acervo pessoal.
Júlio Manoel Domingues
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