“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” (Fernando Pessoa)
Com a publicação do site www.porangabasuahistória.com na Internet e existindo, ainda, a expectativa favorável de alcançar até o final do ano um número considerável de visitas – 100.000 internautas já poderão ter navegado pela página – um feito extraordinário para a historiografia local, também fomos honrados com a mensagem dos irmãos Paulo e José Luiz Wagner – filhos do sr. Luiz Wagner (uma figura ilustre de Porangaba), que, além de nos parabenizar pelo resgate histórico, contaram que o pai já alcançara 101 anos de vida, estando bastante lúcido, com boa saúde e sempre relembrando fatos que envolveram a sua passagem por nossa terra. Feliz com a notícia, propus visitá-lo em companhia de meu filho Júlio, o que ocorreu no dia 29/10/2016, em sua residência, em São Paulo, quando fomos recebidos pelo “patriarca” e filhos. Foi um encontro gratificante, emocionante, marcado por muitas lembranças e saudades.
O casal alemão Rupert Wagner e Apolônia Maier chegou ao Brasi em 1913 – desembarcando no porto do Rio de Janeiro, com 5 filhos menores. Ludvig (Luiz) é um dos filhos brasileiros e nasceu 2 anos depois, precisamente em 08/06/1915 na cidade de São José do Barreiro, SP. Naquela época a imigração era incentivada pelo Governo Brasileiro e, inicialmente, foram recepcionados no Núcleo Colonial Visconde de Mauá, em Resende, Rio de Janeiro. Após trabalharem por 2 anos, mas como esses núcleos coloniais não se desenvolveram pelo desinteresse governamental que não dispensava o apoio necessário, os imigrantes deixaram de receber a subvenção e se viram diante de duas únicas alternativas: 1. Retornar ao país de origem por conta própria ou 2. Trabalhar, sem qualquer tipo de ajuda, nas fazendas de café espalhadas pelo Interior paulista. Sem condições de retornar por problemas financeiros e devido ao conflito bélico (1ª. Guerra Mundial) ter aumentado na Europa, envolvendo principalmente o Império Alemão, o casal resolveu ficar e procurar trabalho nas fazendas de café do Vale do Paraíba. Chegaram até a cidade de São José do Barreiro, quase na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, e foram alojados no Núcleo Colonial Bandeirantes, formado por famílias alemãs e austríacas. Dali vieram para São Paulo, onde moraram numa chácara próxima ao Rio Pinheiros, nos Jardins e trabalharam no Clube Alemão (Sport Club Germânia), hoje o Clube Pinheiros.
Stefan Maier, (Estevão Alemão), irmão de Apolônia, que permanecera na Alemanha, servindo ao exército germânico na 1ª. Guerra Mundial, somente chegou ao Brasil em 1919. Trabalhou e morou em São Paulo até o final daquele ano, quando as Famílias Wagner e Maier se mudaram para uma fazenda, próxima ao bairro do Varjão, em Conchas,SP. Em 1933, Estevão, já casado, mudou-se para Porangaba, onde montou um moinho de beneficiamento de milho e arroz. Com o passar dos anos, convidou os sobrinhos para viver e trabalhar em Porangaba. Em 1943 chegou o sobrinho Luiz; ele já era casado com Hermelinda Bertin, de família de Conchas; tinham na época apenas dois filhos pequenos, Maria e José Luiz. Compraram em Porangaba um sítio de 20 alqueires, no bairro dos Poli, próximo à estrada velha de Torre de Pedra e passaram a trabalhar na lavoura. Luiz e sua família moraram durante 29 ( vinte nove) anos no município de Porangaba, sendo os primeiros 5 anos no sítio do bairro dos Poli, 21 anos na Vila, que mais tarde passou a se chamar Vila São Luiz em sua homenagem e 3 anos na rua principal da cidade. Além dos dois filhos nascidos no município de Conchas, Luiz e Hermelinda tiveram mais seis filhos: João, Antônio, Rosa, Aparecida, Paulo e Irene. A esposa faleceu no dia 13 de março de 2014, com 92 anos de idade e está sepultada no cemitério de Porangaba.
“Nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu um importante fluxo de imigrantes alemães. A imigração começou na primeira metade do século XIX, quando ainda não havia uma Alemanha formada, mas diversos reinos que formavam os Estados Alemães. O Sul do Brasil absorveu a maior parte desses imigrantes, que se dedicaram à agricultura familiar.” (Fonte: “Alemães”, Wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Alemães)
Luiz Wagner, filho de imigrantes alemães. agricultor, negóciante, formou uma digna e respeitavel família porangabense e foi responsável, seguramente, pelo primeiro empreendimento imobiliário na nossa cidade; a Vila São Luiz, um loteamento que deu certo apesar das dificuldades da época. Visionário em suas proposições, despertava confiança e obteve sucesso.
Na década de 1940, ao lado da estrada de terra que vinha de Torre de Pedra, antes de atravessar o Rio Feio, a 1 km da cidade aproximadamente, formava-se um pequeno povoado, com apenas algumas casas construídas, a maioria de pau-a-pique, conhecidas também como casas de barro ou de taipa. Em 1947, Luiz Wagner comprou ali 2 alqueires do professor Antônio Freire de Souza e mais 4 alqueires de Antônio José Vieira (Tao), casado com Ritinha Gomes. Os 6 alqueires ficavam na margem direita da estrada de Torre de Pedra, no sentido de quem vem à cidade, em frente do antigo matadouro municipal. Os primeiros moradores da “Vila” foram: Zé Pequeno, Ciro Alonso, Luiz Alemão, Zé Alemão, Nestorzinho da Amásia, Zé Suta, Cornélio Suta, Toninho da Braulina, João Leme, Mingo Cândido, Dita Pinto e Teodoro.
Em 1963, segundo relato da família, o sr. Ozório Tavares Paes, Tabelião do Cartório de Porangaba, disse a Luiz Wagner que estava nomeando a “Vila” como Vila São Luiz, em reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento do lugar, desde a formação de sua primeira chácara com o loteamento de 2 alqueires, mais a doação do terreno para a construção da capela de São João e a formação de sua nova e pequena propriedade, onde morava. Era o reconhecimento público. Luiz Wagner, figura exemplar, aposentado, um homem marcado pela nobreza e dignidade de caráter, vive hoje em São Paulo ao lado de seus familiares, recebendo o merecido apoio dos filhos. Parabéns !
Foto: “Visita Sr. Luiz Wagner”, acervo pessoal.
Júlio Manoel Domingues, em colaboração com Paulo Wagner e José Luiz Wagner.
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