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9 de dezembro de 2015 - Porque Pedro Cavalheiro Citava Fagundes Varela ?

Pedro Cavalheiro foi uma figura notável à sua época. Depois de fazer a ronda dos bares, onde se embebia de muita boa idéia, ia para um dos bancos do jardim da praça, pondo-se a dizer poesias românticas e clássicas; quase sempre de Fagundes Varela, assistidas por nós, os jovens porangabenses sonhadores iniciados por ele no romantismo caboclo. Terminada a sua declamação, vociferava, entre gestos e perdigotos: “Vocês não sabem o que é ter sentimentos”. Nunca fiquei sabendo, de onde veio? Família de quem? Como vivia?

(Fonte: Gentil de Oliveira).

 

Pedro era daqui mesmo, descendente de tropeiros e sempre viveu de pequenos serviços. Boêmio e romântico, um seresteiro apaixonado,   conhecia o cancioneiro brasileiro como ninguém, cantando com desenvoltura as composições de Paraguaçu, Catulo da Paixão Cearense e J. Pernambuco. Chegou a participar de revoluções e na Revolução Paulista de 1924 foi promovido a cabo por ato de bravura. Solteiro, faleceu em 1948. A Família Cavalheiro era muito conhecida e faz parte da História de Porangaba. O curioso disso tudo é que êle  já conhecia a obra do poeta Fagundes Varela e sabia, inclusive, que o mesmo havia mantido relações com os tropeiros de Sorocaba, “que lhes cediam lugar para dormir e até dividiam comida”. Provavelmente chegou a ler nos seus versos essa  experiência ao pé da fogueira e ao som da viola tropeira. Daí o seu interesse e as costumeiras invocações públicas no jardim da praça da matriz quando citava o freqüentador dos ranchos tropeiros.  É, realmente, um fato singular.

 

“Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro, RJ, em 17 de agosto de 1841 e faleceu em Niteroi  em 18 de fevereiro de 1875.  Poeta, patrono na Academia Brasileira de Letras, era filho do magistrado Emiliano Fagundes Varella e de Emília de Andrade, ambos de ricas famílias fluminenses.Poeta romântico e boêmio inverterado, foi em seu tempo um dos maiores expoentes da poesia brasileira. Fez em Petrópolis os estudos iniciais e matriculou-se  na Faculdade de Direito de São Paulo (1859), mas não concluiu o curso devido o  interesse pela literatura. Em 1861 publicou  o seu  primeiro livro de poesias, “Noturnas”. Dois anos depois, “O Estandarte Auriverde”. Casou-se em 28/05/1862  com a amazona Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba (SP), filha do dono do “Circo Eqüestre e Ginástico Cia Luande”, provocando um escândalo na família. O falecimento de seu primeiro filho Emiliano, com apenas 97 dias de vida,  foi  o fato determinante  que  o condenou a uma vida de alcoólatra, andarilho das estradas e freqüentador dos ranchos tropeiros. Logo a seguir, publicou “Vozes da América” (1864) e “Cantos e Fantasias” (1865). Resolveu terminar o curso de Direito em Recife. Enquanto estava em viagem, sua esposa faleceu na cidade de São Paulo. Ele retornou à Faculdade do Largo São Francisco (SP) em 1867 e, mais uma vez, abandonou o curso. Voltou para a fazenda de Rio Claro (RJ) e casou-se, pela segunda vez,  com a prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas e um filho.  Em 1870, mudou-se para Niterói, onde viveu até o fim da vida, nas fazendas dos parentes e nas rodas da boêmia intelectual. Daí para frente, o que restou ao poeta era a poesia, que sempre esteve em primeiro lugar. Sempre inquieto, conseguia refúgio somente junto à Natureza, sua velha conhecida. Por esta razão, sua poesia – com fortes características românticas – expõe, em contraste, a contemplação da vida no campo e a vida na cidade, com seus vícios. Revela ainda uma fase de forte espírito religioso. Sua obra inclui: “Cantos Meridionais” (1869), “Cantos do Ermo e da Cidade” (1869), “Anchieta ou Evangelho na Selva” (1875), “Cantos Religiosos” (1878) e “Diário do Lázaro” (1880). Embriagando-se e escrevendo, faleceu ainda jovem, vivendo à custa do pai. Morreu com 34 anos de idade.”

(Fonte: Bianca Nóbrega, “Fagundes Varela e Sorocaba II”  em http://www.sorocaba.com.br

/enciclopediasorocabana/index.php/?local=titulos&tipo=verbetes&ler=1178059837

 

Foto: “Fagundes Varela” em http://www.elfikurten.com.br/2014/09/fagundes-varela.html

 

Júlio Manoel Domingues

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