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23 de maio de 2013 - Recordando o Valter Barbeiro !

O telefone tocou e a triste notícia chegou: o Valter Barbeiro havia falecido. Lamentamos o ocorrido e de pronto vieram inúmeras lembranças. Sabíamos que vinha adoentado, sofrendo há algum tempo. Um verdadeiro choque para aqueles que o conheceram de perto, considerando o seu espírito brincalhão e a alegria de viver. Mas foi o que aconteceu e a sua saúde ruiu. Outros problemas apareceram e o seu estado piorou. É a explicação encontrada. Todos em Porangaba o conheciam; uma figura impar, simples e amiga. Como jogador de futebol, nas recomendas, nas danças de São Gonçalo, nas pescarias, nas cantorias, na escola de samba, no carnaval com seu bloco de amigos e, principalmente, nos forrós, onde ele sempre se fazia presente. Era também violeiro e gostava de cantorias. Amava a vida e participava de tudo, sendo respeitado por todos. Adorava a sua família, dando-lhe o apoio e o conforto possível de acordo com  suas possibilidades.

 

 

Foi iniciado na profissão de barbeiro no sítio onde morava, vindo depois para a cidade, onde, com o passar dos anos, pela sua conduta, atraiu grande clientela que sempre o acompanhou. Hoje podemos afirmar, sem menosprezo aos demais profissionais, que era o barbeiro mais procurado de Porangaba. Atendia velhos e jovens, adultos e crianças, indistintamente os menos favorecidos e os ricos com paciência e atenção. Sua conversa era extremamente agradável, comentando tanto os assuntos corriqueiros do dia a dia  como os  mais complexos com discrição e respeito. Sabia de tudo que acontecia por aqui. A sua barbearia era do tempo em que se ia ao barbeiro,  não somente para cortar cabelos ou fazer a barba, mas para pôr a conversa em dia, pois ali se falava de tudo. Era uma espécie de confessionário.  Curiosamente, foi e será sempre lembrado, como o barbeiro do primeiro corte de cabelos de muitos jovens aqui nascidos ou em trânsito, cujos pais o procuravam. Hoje, já homens formados,  ainda falam com saudades do Valter Barbeiro. Incluímos nesse lote  os netos do inesquecível Elias Fadel Fadel, que lhe devotava grande apreço e consideração.  – Valter, corta o cabelo do menino, gritava do outro lado da rua.  O seu salão ou, melhor, o seu pequeno espaço de trabalho, não primava por mobiliário sofisticado e nem por ordem absoluta, tendo sempre pedaços de cabelos caídos  pelo chão e restos de jornais e revistas espalhados pelas cadeiras, mas isso não importava. O que valia era a sua presença, o seu carisma.

 

 

Acontece que o tempo é implacável e o solícito barbeiro foi vítima da evolução e da modernidade. Nossa cidade foi aos poucos se libertando de costumes tradicionais, deixou de ser uma cidade isolada. Surgiram novos salões de beleza com instalações modernas; com cabeleireiros, cabeleireiras  e manicures que passaram também a atender o publico  masculino. A barbearia que era um ponto exclusivo de homens, tornou-se “unisex”. Tudo mudou e os grandes prejudicados foram os barbeiros tradicionais que viram debandar grande parte da clientela, principalmente os mais jovens. O Valter foi o que mais resistiu pela preferência de seus clientes fiéis, que não o trocaram pelos novos serviços.

 

 

Valter Vieira (Valter Barbeiro ), filho do saudoso Nhô Nito, nasceu no bairro dos Lopes, Porangaba. Aprendeu a profissão com Elias Lopes, o barbeiro do bairro. Trabalhou antes na lavoura e mudou-se, depois, para a cidade, onde exerceu a profissão por muitos anos. Casado com  dona Maria Aparecida Cardoso Vieira, deixou filhos e netos.  O óbito ocorreu no dia 27.09.2010 e esta  sepultado no Cemitério Municipal de Porangaba.

 

Júlio Manoel Domingues

 

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