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17 de março de 2016 - Um Prato de “Leite com Farinha” Faz Bem!

Conversando com meu primo Celso, já há alguns dias, lembramos de fatos pitorescos, engraçados e também de momentos inesquecíveis, felizes,  que marcaram nossa infância em Porangaba, sempre ao lado do saudoso avô Bento, quando éramos paparicados; éramos felizes, mas não sabíamos. Contou-me, então, que numa das primeiras vezes que visitou o nosso “bisavô” Manoel Cândido Silvestre, o vô Velho, na  chácara, acompanhado do avô Bento, ao ser apresentado, o “patriarca da família” logo perguntou: “– quem é o menino”?  O avô Bento disse-lhe: – é o filho mais velho do Luizinho.  Então, ele olhou para o Celso e sentenciou:  - esse menino está magrinho;  é preciso alimentá-lo com um bom “prato de leite com farinha”.

 

Lembrei-me, em seguida, de fato ocorrido comigo, pois o “prato de leite com farinha” fazia parte do cardápio da  família. Para os netos tudo começava na casa de nosso avô, quando ele tomava o café da tarde, às vezes acompanhado, e preparava a saborosa mistura. Era um costume saudável que muito nos alegrava; eu o acompanhei muitas vezes. Dali estendeu-se para as nossas próprias casas. Foi um fato marcante de nossa infância e sinto saudades, afinal são passados mais de setenta  anos. Hoje tudo está mudado, ninguém comenta mais nada e somente sobraram lembranças.  Como seria  gratificante ouvir: “ – vô, eu quero um prato de leite com farinha”, mas o tempo passou  e o costume não existe mais.

 

É sabido que os usos e costumes mudam com o passar dos anos, caem em desuso e muitos não são nem mais lembrados. No caso em questão era um prato rápido de fácil preparo, talvez um costume caboclo, tropeiro ou dos próprios imigrantes, saboreado em grande parte das famílias locais, já que o leite era fácil e muitos chegavam a preparar a sua própria  farinha de milho. O leite era fervido e guardado em vasilhas de alumínio (leiteiras);  era um produto perecível, de pouca duração, que exigia o consumo quase imediato, uma vez que ainda não existiam  geladeiras como nos dias atuais. Os tempos eram outros, não havia energia elétrica e nem fogão a gás.  É bom acrescentar que comer um prato de “leite com farinha de milho” sempre foi muito  benéfico prá  saúde, pois contém  nutrientes essenciais.

 

Concluindo, numa rápida pesquisa na Internet, encontrei a seguinte referência: “ Os portugueses são os que mais influíram na formação da culinária brasileira, mas é preciso lembrar que a  mandioca, o milho, os frutos e outros vegetais da nossa flora, assim como as caças e os peixes compõem a contribuição indígena. Os produtos de origem africana foram trazidos ao Brasil pelos portugueses e também pelos escravos. Surgiu assim o que podemos chamar de culinária brasileira colonial primordial, na Vila de São Vicente, a primeira cidade brasileira, fundada em 21 de janeiro de 1532. Pelos dois séculos seguintes os bandeirantes e tropeiros se incumbiram de difundir esta culinária pelo interior do Brasil. Da Vila de São Vicente para São Paulo de Piratininga e daí para toda a região compreendida pelos atuais estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná – as entradas e bandeiras, as monções e os tropeiros difundiram a culinária brasileira colonial primordial. Paralelamente, ao longo de toda a nossa costa surgiram as culinárias locais com destaque para o uso dos peixes e frutos do mar. Inicialmente com o milho se fazia o angu, a pamonha, o curau e a canjica, que os portugueses incrementaram com o leite, açúcar e canela. Tempos depois começaram a produzir a farinha de milho. (Fonte: “Contribuições Portuguesas à Culinária Brasileira”, Confraria Terra Brasilis em http://confrariaterrabrasilis.blogspot.com.br/2012/12/contribuicoes-portuguesas-culinaria.html).

 

Foto: “Farinha de Milho em Flocos”, Luciana Macêdo em http://cafezinhodascinco.blogspot.com.br/2008/03/farinha-de-milho.html

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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