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17 de outubro de 2017 - Visita de D. José M. Homem de Mello, Arceb. de Ptolomaide (1907)

Seu lema episcopal era “ Non recuso laborem” . Como Arcebispo Titular de Ptolomaide, visitou Porangaba em 1907, à época Paróquia de Santo Antônio do Rio Feio na Freguesia da Bela Vista de Tatuí, onde, em 28/07/1907 registrou nos livros da igreja a sua presença. Trata-se, evidentemente, de um fato grandioso à História da Igreja Católica, Apostólica e Romana de Porangaba pela importância do visitador diocesano, possivelmente a maior autoridade da Igreja de Roma que passou pelo Sertão do Rio Feio. Isso tudo nos enche de orgulho e urge registrar e divulgar esse fato histórico. Sua ascensão eclesiástica foi meteórica. Em 20 de novembro de 1894 já era nomeado Cônego Catedrático pelo Bispo Dom Joaquim Arcoverde e aos 10 de julho de 1900 recebeu da Santa Fé a Medalha Pro-Ecclesia et Pontifice. Em 03 de abril de 1902 foi nomeado Monsenhor Camareiro Secreto do Papa Leão XIII. Sua ordenação episcopal aconteceu em 1906, quando foi eleito bispo de Belém do Pará (função à qual renunciou). No ano de 1908 foi nomeado o 1º. Bispo da Diocese de São Carlos, SP. Evidentemente, o assunto em questão, reclama um levantamento mais detalhado para saber quais os motivos de sua passagem pela Bela Vista de Tatuí e, principalmente, pelas dificuldades que enfrentou. Imaginemos Porangaba há cento e dez anos atrás, quando tinha somente duas ruas, uma povoação onde faltava tudo, os caminhos eram precários, a locomoção feita através de lombos de animais; não existiam hospedagens, acomodação, luz elétrica, água encanada, sendo as condições de higiene e saúde precárías, marcadas pelo desconforto, etc.. Foi recepcionado pelo padre José Gorga.

 

Ptolomaide – terminologia antiga que era acrescentada ao cargo de bispo ou arcebispo que, por impendimento justo, deixava de ficar à frente de sua diocese ou arquidiocese. Porém, é preciso registrar que “a visita pastoral ou canónica, por vezes também chamada visitação, é uma obrigação imposta aos bispos católicos pelo Código de Direito Canónico de 1983 (artigos 396-398) de visitar toda a diocese, ao menos cada cinco anos, por si ou, em caso de necessidade, por bispo coadjutor ou auxiliar, ou por um presbítero. A visita deve abranger as pessoas , instituições, coisas e lugares sagrados , no limite da diocese, com as excepções previstas dos institutos religiosos isentos pelo direito. A natureza, objectivos e o estilo desta visita, sobretudo às paróquias, são definidos pelo Directório do Ministério Pastoral dos Bispos. No caso do bispo negligenciar a visita pastoral, compete ao bispo metropolitano fazê-la, com aprovação prévia da Santa Sé.” (Fonte: Wikipedia em https://pt.wikipedia.org/wiki/Visita_pastoral).

 

Registros Históricos da Visita no Livro do Tombo:  “Fazemos saber que aos 25 de Julho de 1907 chegamos à Parochia de Bella Vista de Tatuhy, antigo Rio Feio, acompanhado do respectivo Vigário P. José Gorga que foi ao nosso encontro em Angatuba ( Espírito Santo da Boa Vista ), dos Padres do Immaculado Coração de Maria: Ildefonso Penalba e Henrique Mone e do Secretário da Visita: P.Mariano Patella. A uma legoa de distância fomos esperados por mais de quinhentos cavalleiros. Ao chegarmos a povoação éramos esperado pelo povo e authoridades locaes. Fomos saudados então pelo Professor de Conchas, Snr. Ernesto Sampaio, que em nome do povo nos deu as boas vindas. Formou-se então um longo préstito que nos conduzio debaixo do pallio para a residência parochial. Ahi demos o annel a beijar a todo povo. No mesmo dia, à tardinha, fizemos nossa entrada solenne, pregando por essa ocasião. A Egreja Matriz está sendo reconstruída, estando já completa a fachada com duas torres. Quando acabada será um belo templo. A parte primitiva está bem conservada, limpa. As imagens são todas perfeitas e novas; os paramentos estão em bom estado. O Sacrário é correcto e o Altar Mor é tratado com cuidado e decoro. O povo da Bella Vista tem instrucção religiosa e está habituado à recepção dos sacramento e se porta convenientemente na Egreja e quando assiste as funcções religiosas. Os livros parochiais estão bem conservados, a escripturação é bem feita e todo do próprio punho do Reverendo Vigário, coisa digna de nota e elogios. … No último dia da Visita Pastoral, à noite, a população de Bella Vista precedida pelas associações religiosas, com archotes lanternas, e com a Banda de Música à frente, ao estrugir dos foguetes, percorreu as duas ruas principais do povoado e veio até a frente da casa de nossa residência onde tomou a palavra o professor público Snr. Ernesto Sampaio, o qual em linguagem correcta interpretou os sentimentos do povo catholico de Bella Vista que alli se achava reunido para deante da nossa pessoa dar publico testemunho da sua fé e de sua immensa alegria por ter participado das graças da Visita Pastoral, beneficio a tanto tempo desejado e finalmente conseguido. Agradecemos aquella brilhante manifestação e invocamos às bênçãos do Ceo sobre todo aquelle povo fiel que correspondeu ruidosamente aos vivas que demos à Religião Catholica Apostholica Romana e ao Santo Padre, o Papa Pio X. Pregamos duas vezes nos dias da visita e na nossa despedida encorajamos este bom povo a continuar firme na fé e obediente aos preceitos da Santa Egreja, e também exigimos o concurso de todos para unidos ao Reverendo Vigário concluírem a Egreja Matriz. Despedindo-nos do bom povo da Bella Vista, agradecemos ao Reverendo Vigário as suas attenções, as provas de respeito e amizade que despensou à nossa pessoa, à hospedagem que nos deu e aos nossos companheiros; aos seus dignos irmãos agradecemos também o trabalho e o esforço que fizerão para que tudo corresse bem no tempo da Visita Pastoral. Agradecemos ainda a Corporação Musical o seo concurso expontaneo e alegre em todos os actos da visita. Agradecemos também à Authoridades e as distinctas famílias de Bella Vista as manifestações de seu respeito. A todo povo catholico de Bella Vista os nossos agradecimentos pelo affecto carinhoso com que nos recebeu e tratou; a todos pois as nossas melhores bênçãos em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Esta será lida em um dia festivo para que chegue ao conhecimento de todos. Dada e passada em Rio Bonito, em visita pastoral aos 31 de julho de 1907. E eu P. Mariano Patella, Secretario da Visita a escrevi.”

 

Dom José Marcondes Homem de Mello (Arcebispo titular de Ptolomaide) foi o primeiro bispo da Diocese de São Carlos – nomeado em 09/08/1908 com o título de Arcebispo-Bispo. Natural de Pindanonhangaba, nesceu em 13/09/1860; era filho do Coronel Benedito Marcondes Homem de Melo e de Maria Pureza Monteiro de Godoy; neto paterno de Francisco Marcondes Homem de Melo, Visconde de Pindamonhangaba. Estudou no Colégio do Caraça dos Padres Lazaristas, em Minas Gerais, e cursou ciências eclesiásticas no Seminário de São Paulo. Foi ordenado Padre pelo Bispo de São Paulo Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho em 11 de março de 1883. Foi Vigário Paroquial de Taubaté (1883), Pároco de São Roque (1883-1885), Pároco de Imaculada Conceição de Cruzeiro (1885-1888), Pároco do Bom Jesus do Brás, na capital (1888-1906). Eleito Bispo da Diocese de Belém do Grão Pará em 26 de abril de 1906 e já em 1º de maio, com a elevação daquela sede à categoria de Arquidiocese, foi promovido a seu primeiro Arcebispo. Recebeu a ordenação episcopal em Roma, no colégio Pio Latino Americano, pela imposição das mãos do Cardeal Merry del Val – Secretário de Estado de Pio X, a 29 de junho daquele ano, com assistência de Dom José Camargo Barros, colega de seminário e de ordenação sacerdotal, Bispo de São Paulo, e também na presença de Dom Francisco do Rego Maia, seu predecessor, Bispo emérito de Belém e promovido Arcebispo titular de Nicópolis. Na ocasião recebeu o pálio arquiepiscopal. De volta ao Brasil, com o seu companheiro Dom José de Barros, a bordo do vapor Sírio, este naufragou na altura do cabo de Palos, no litoral da Espanha, em 04 de agosto de 1906 e o bispo de São Paulo faleceu. Seu corpo não foi encontrado. Dom José Marcondes, sensivelmente traumatizado, renunciou a Aquidiocese de Belém, sendo então nomeado Arcebispo Titular de Ptolomaide em 06/12/1906. Por nomeação em 09/08/1908, transferiu-se para São Carlos, onde esteve a frente da Diocese de 1908 a 1935, quando entregou o governo da Diocese ao Bispo Coadjutor; retirou-se para São Paulo. Faleceu em 15 de outubro de 1937 com 77 anos de idade e seu corpo foi transladado para São Carlos e está sepultado na cripta da Catedral.

 

Foto: “Retrato de Dom José Marcondes Homem de Mello”, autor desconhecido em http://www.diocesesaocarlos.org.br/bispos-anteriores/ 

 

 

Júlio Manoel Domingues

 

 

 

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